O programa de pós-graduação da instituição é um dos mais disputados do País (Composição: Lucas Oliveira/CENARIUM)
12 de março de 2025
Letícia Misna – Da Cenarium
MANAUS (AM) – Natural do Acre, a jovem extrativista Cátia Santos, de 29 anos, conquistou um grande feito ao ser aprovada no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT), da Universidade de Brasília (UnB). O programa de pós-graduação da instituição é um dos mais disputados do País.
Graduada em Gestão Ambiental, Cátia nasceu e cresceu na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, a segunda maior do Brasil. Além de ser coordenadora de Comunicação Digital do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ela também é eco comunicadora na CENARIUM, dedicando-se ao fortalecimento das comunidades extrativistas da região.
“Crescer na Resex Chico Mendes, onde a luta pelos direitos dos povos tradicionais é reconhecida internacionalmente, me fez perceber que eu fazia parte de algo muito maior. Eu sabia que precisava dar continuidade a esse legado”, disse.

Valorização de saberes tradicionais
Durante a seleção para o mestrado, Cátia apresentou uma proposta de estudo sobre o impacto das mudanças climáticas no modo de vida tradicional dos extrativistas da Resex Chico Mendes. “O foco principal da minha pesquisa será analisar como essas mudanças estão afetando as práticas e os saberes tradicionais dessas comunidades e, em especial, as estratégias de adaptação e mitigação que estão sendo implementadas para enfrentar os desafios impostos pelas crises climáticas”, explicou.
Para desenvolver o trabalho, ela planeja realizar um levantamento qualitativo por meio de conversas com membros mais velhos do território, mulheres, jovens e outros integrantes da comunidade, buscando entender as transformações no modo de vida local e as respostas comunitárias aos impactos climáticos, e como isso pode contribuir para a criação de políticas públicas mais eficazes.

Uma conquista de todos
À CENARIUM, Cátia contou que, quando recebeu a notícia de sua aprovação, ficou feliz por saber o peso da conquista e o que ela representa.
“Não é uma conquista só minha, mas de todos os extrativistas do Brasil. Sei que, ao alcançar mais essa etapa, também estarei inspirando outras pessoas, especialmente aquelas que, como eu, nasceram em territórios extrativistas, onde muitas vezes sentimos que certos caminhos parecem distantes da nossa realidade”, ressaltou.
Assim como outras pessoas de seu território, Cátia Santos enfrentou dificuldades para ter acesso à educação básica, tendo que deixar seu a Resex para concluir os ensinos Fundamental e Médio, algo que ela classificou como “uma necessidade comum para jovens extrativistas e diferente para quem vive em regiões metropolitanas”.
“Lembro de quando compartilhei a novidade com um amigo, e ele me disse: ‘Você é a primeira da sua família a fazer um curso de graduação, agora a primeira a fazer um mestrado’. Isso me fez refletir profundamente. Fiquei feliz e, ao mesmo tempo, um pouco triste. Não quero ser a única a ser a ‘primeira’, mas me sinto grata por ter a oportunidade de abrir portas para que muitos outros jovens possam seguir por esse mesmo caminho”, disse.
Eco comunicação
Em 2024, Cátia foi uma das palestrantes da mesa que abordou o tema “Etnojornalismo e o Papel dos Eco Comunicadores na Mídia Contemporânea”, formada por profissionais da CENARIUM, no 19º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ela explica que ser uma eco comunicadora, ou comunicadora popular, “é atuar como uma ponte entre a comunidade e os meios de comunicação, utilizando uma linguagem acessível e as vivências locais para transmitir informações relevantes e promover a conscientização sobre questões sociais, culturais e políticas”.

Para ela, o objetivo da eco comunicação é sempre dar voz àqueles que, muitas vezes, são silenciados nos canais de comunicação tradicionais. “A principal característica da comunicação popular é a acessibilidade e a inclusão. Nosso trabalho busca tornar a informação compreensível e relevante, muitas vezes utilizando meios mais próximos da realidade da comunidade, como rádio comunitária, redes sociais, videoclipes, eventos culturais, teatro, entre outros”, disse.
Cátia Santos destacou ainda que, no contexto da Amazônia, ela procura alertar sobre o desmatamento ilegal, o impacto das queimadas, as crises climáticas e os efeitos de políticas públicas que afetam os territórios.
“Dessa forma, contribuímos para a criação de uma sociedade mais consciente e engajada na proteção ambiental. Ao mesmo tempo, apresentamos os territórios extrativistas ao mundo, destacando nossa riqueza, nossa identidade e a nossa relação com a floresta”, afirmou concluiu a extrativista e, agora, mestranda na Universidade de Brasília (UnB).
Editada por Marcela Leiros
Fonte: Agência Cenarium