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quinta-feira, 1 maio, 2025
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Fim da linha para Musk na Tesla, aponta jornal

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Em meio à queda de lucros e do valor das ações, o conselho administrativo da Tesla iniciou, discretamente, a busca por um sucessor para Elon Musk.

A notícia, divulgada pelo The Wall Street Journal, surge como reflexo de uma empresa em transformação, pressionada entre as ambições políticas de seu fundador e a realidade de um mercado cada vez mais competitivo.

Ultimato silencioso

Há cerca de um mês, com as ações da Tesla em declínio e investidores insatisfeitos com o foco de Musk na Casa Branca, membros do conselho decidiram agir. Contataram diversas empresas de recrutamento executivo para iniciar, formalmente, a busca pelo próximo CEO da fabricante de carros elétricos.

Durante reunião de atualização com Musk, o recado foi direto: ele precisava dedicar mais tempo à Tesla e comunicar isso publicamente. Surpreendentemente, o bilionário não resistiu à solicitação, aponta o jornal. Na semana passada, após anunciar queda de 71% nos lucros do primeiro trimestre, Musk finalmente declarou aos investidores: “A partir do próximo mês, vou alocar muito mais do meu tempo à Tesla.”

O conselho estreitou o foco em uma grande empresa de recrutamento, segundo fontes do Journal. Não está claro se Musk estava ciente desse esforço ou se sua promessa de maior dedicação afetou os planos de sucessão.

Logo da Tesla em um painel
Tesla está em crise (Imagem: Jonathan Weiss/Shutterstock)

Império dividido

  • A trajetória recente da Tesla ilustra os desafios de uma empresa cujo líder divide sua atenção entre múltiplos projetos. Musk supervisiona cinco negócios diferentes e, apenas na Tesla, mais de 20 executivos se reportam diretamente a ele;
  • Desde a eleição de Donald Trump, Musk tem passado a maior parte do tempo em Washington (EUA), com fins de semana no resort Mar-a-Lago, na Flórida (EUA). Suas interações com funcionários e membros do conselho da Tesla frequentemente ocorrem de forma remota;
  • Alguns funcionários relataram que a primeira vez que ouviram Musk em meses foi durante uma reunião geral em março, transmitida para todos os usuários do X, onde ele tentou tranquilizá-los:
    • “Se você ler as notícias, parece o Armagedom. Não posso passar por uma TV sem ver um Tesla em chamas”, disse ele, referindo-se ao vandalismo em concessionárias e estações de carregamento. “Há momentos tempestuosos, mas estou aqui para dizer que o futuro é brilhante e empolgante. O que estou dizendo é: segure suas ações.”

Transição tumultuada na Tesla

A Tesla está em período de transição, segundo seus executivos. Os populares Tesla Model 3 e Model Y impulsionaram a primeira onda de crescimento.

Agora, a empresa está se voltando para inteligência artificial (IA) e robótica, anunciada por novos veículos, como o Cybercab, sedã dourado de dois lugares sem volante ou pedais, e pelo Optimus, robô humanoide central para a visão de Musk para a empresa.

No entanto, seu negócio principal de veículos elétricos está em declínio e seu veículo mais recente, a Cybertruck, não proporcionou o impulso esperado.

Lançado com preço inicial de cerca de US$ 100 mil (R$ 567,56 mil, na conversão direta)duas vezes e meia o valor anunciado originalmente por Musk – o caminhão enfrentou oito recalls e vendeu apenas 39 mil unidades nos EUA em seu primeiro ano completo de vendas, muito abaixo da meta de 250 mil anunciada por Musk.

Tensões internas crescentes

A proximidade de Musk com Trump, que criticou o mercado de veículos elétricos e prometeu revitalizar as indústrias de petróleo e gás, criou tensões dentro da Tesla. Alguns funcionários buscaram garantias de que Musk ainda apoiava a missão da empresa de combater as mudanças climáticas.

Em novembro passado, o executivo Mike Snyder tentou tranquilizar sua equipe: “É óbvio que tem sido uma temporada turbulenta e emocional, reconheço isso. Prefiro ter Elon ao lado de Trump do que um inimigo de Trump.”

Entretanto, no início deste ano, ficou claro para alguns dentro da empresa que a incursão política de Musk estava se tornando um passivo para os negócios. A Tesla estava perdendo apelo em mercados, como Califórnia (EUA) e Alemanha, e motoristas começaram a colocar adesivos em seus carros para se distanciarem das posições políticas de Musk.

O caso de Eliah Gilfenbaum, executivo da Tesla na Califórnia (EUA), ilustra a divisão interna. Ele disse à sua equipe que estava ficando mais difícil contratar e reter talentos e que a Tesla estaria melhor se Musk renunciasse. Após a divulgação dessas declarações por dois jornais, Gilfenbaum foi forçado a deixar a empresa.

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Desafios financeiros e remuneração

Musk tem reclamado publicamente e em privado que, apesar de possuir cerca de 13% da empresa, está trabalhando sem remuneração há sete anos, desde que um juiz de Delaware anulou seu pacote multibilionário de remuneração. O conselho da Tesla, recentemente, formou um comitê especial de compensação para abordar a remuneração do CEO.

No início do ano passado, após quase duas décadas dirigindo a Tesla, Musk confidenciou a alguém próximo, em mensagens de texto enviadas na madrugada, que estava frustrado por ainda estar trabalhando sem parar na empresa.

Na primavera estadunidense, ele disse a essa pessoa que não queria mais ser CEO da Tesla, mas estava preocupado de que ninguém pudesse substituí-lo no comando da empresa e vender a visão de que a Tesla não é apenas uma montadora, mas o futuro da robótica e automação.

Impacto na política e nos negócios

Musk gastou mais de US$ 250 milhões (R$ 1,41 bilhão) na campanha de reeleição de Trump e recebeu o cargo de líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Seu status como “funcionário especial do governo” permite que ele trabalhe na Casa Branca por 130 dias por ano sem preencher os formulários de divulgação financeira exigidos para funcionários regulares.

Na semana passada, durante uma reunião de gabinete, Trump agradeceu a Musk por seu trabalho no governo: “Você sabe que está convidado a ficar pelo tempo que quiser. Acho que ele quer voltar para casa, para seus carros“, retrata o WSJ.

Qualquer mudança no topo marcaria um momento crucial para a Tesla: Musk dirige a fabricante de veículos elétricos há quase 20 anos, embora tenha deixado o cargo de presidente do conselho em 2018.

Elon Musk durante evento
Bilionário toca cinco empresas e seu cargo no governo dos EUA (Imagem: Frederic Legrand/Shutterstock)

Perspectivas futuras

Musk e seus comandados redobraram esforços para convencer investidores de que os veículos autônomos há muito planejados pela Tesla estão próximos. A empresa planeja abrir seu aplicativo de transporte para o público até o final de junho, permitindo que clientes em Austin, Texas (EUA), façam viagens de robotáxi sem supervisão em Model Ys.

No relatório de lucros da semana passada, que mostrou queda de 9% na receita trimestral, incluindo queda de 20% na receita automotiva, Musk defendeu o desempenho da empresa e expressou otimismo sobre seu futuro: “Não estamos à beira da morte, nem perto disso.”

Enquanto isso, o conselho de oito pessoas da Tesla está buscando adicionar um diretor independente. Alguns diretores, incluindo o cofundador JB Straubel, têm se reunido com grandes investidores para garantir que a empresa está em boas mãoscom ou sem Elon Musk no comando diário.




Fonte: Olhar Digital

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