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sexta-feira, 14 março, 2025
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Agronegócio intensifica crise hídrica no Brasil

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Perfuração de poços reduz vazão dos rios

O avanço do agronegócio intensifica a crise hídrica no Brasil. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Nature Communications, revela que 55% dos poços analisados drenam água diretamente dos rios. Esse fenômeno ameaça a segurança hídrica em diversas regiões.

Os pesquisadores analisaram 17.972 poços e identificaram que o problema é mais grave no Matopiba—região que inclui partes da Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins. A irrigação intensiva acelera a perda de água superficial e compromete os ecossistemas.

Irrigação intensiva afeta disponibilidade hídrica

A captação excessiva de água subterrânea ocorre, principalmente, para irrigação. Segundo Paulo Tarso Sanches de Oliveira, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o uso descontrolado tem impactos severos na disponibilidade hídrica.

Se a extração continuar nesse ritmo, a crise pode afetar tanto a produção agrícola quanto o abastecimento humano. Além disso, a Agência Nacional de Águas (ANA) prevê que as áreas irrigadas no Brasil devem dobrar nos próximos 20 anos, agravando ainda mais a situação.

Pequenos agricultores sofrem com a escassez

A redução do volume dos rios impacta diretamente as comunidades rurais. Em Correntina, no oeste da Bahia, pequenos agricultores já não conseguem manter suas plantações. Marcos Rogério Beltrão, morador da região, relata que a produção de arroz foi praticamente extinta devido à falta d’água.

O oeste baiano faz parte do Matopiba e abriga o Aquífero Urucuia, um dos maiores reservatórios subterrâneos do Brasil. Entretanto, o estudo aponta que 61% dos rios da bacia do São Francisco já perdem água para esse aquífero, intensificando a crise hídrica.

Pivôs centrais aceleram o consumo de água

O agronegócio utiliza sistemas de irrigação como os pivôs centrais. Essas estruturas consomem até 50 mil litros de água por hectare por dia. Para efeito de comparação, uma pessoa precisa de apenas 110 litros por dia, segundo a ONU.

Atualmente, 70% da irrigação por pivôs ocorre no Cerrado, onde está o Aquífero Urucuia. Em São Desidério, na Bahia, a área irrigada aumentou drasticamente, tornando o município um dos maiores consumidores de água subterrânea do país.

Disputa pelo acesso à água cresce

O uso excessivo da água gera conflitos. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2023 foram registrados 34 conflitos pelo acesso à água na Bahia, afetando 2.264 famílias. Pequenos riachos desapareceram, e muitas plantações foram perdidas.

Desde a chegada da soja, inúmeros cursos d’água secaram, prejudicando a agricultura familiar. A falta de regulamentação na captação de água subterrânea favorece grandes produtores e ameaça a segurança hídrica do país.

Sem medidas urgentes, o Brasil pode enfrentar um colapso hídrico nos próximos anos.

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