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sexta-feira, 18 abril, 2025
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A estratégia de Rui Falcão para desafiar o candidato de Lula à presidência do PT

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Edinho Silva, um dos porta-vozes da última campanha de Lula e ex-ministro de Dilma Rousseff, terá vida fácil na eleição de julho para presidente do PT? Se depender do deputado federal paulista Rui Falcão, não. Levar a disputa ao segundo turno e, depois, unificar correntes petistas mais à esquerda é o plano de Falcão, outro ex-integrante do comitê eleitoral de Lula em 2022.

À frente da legenda entre 2011 e 2017, Falcão anunciou em Brasília, nesta quarta-feira 9, que inscreverá sua candidatura a comandante do PT. Para ele, Edinho está moderado demais e parece envergonhado de bandeiras históricas do partido.

“Grande capital” e “imperialismo”, por exemplo, não existem no discurso de Edinho, segundo o deputado. Mas, prossegue ele, “fim da polarização” marca presença.

“Estamos em um embate com o fascismo e com o neoliberalismo, não é só com o fascismo”, diz Falcão. “Não precisamos ter vergonha do manifesto de fundação do PT.”

Edinho fez dois movimentos no fim do ano passado que levam Falcão a “demarcar” diferenças entre ambos. Em novembro, o ex-ministro deu uma entrevista à Veja na qual disse, ao ser indagado se a “polarização” política não era do interesse do PT: “Se apostou, errou. Só conseguimos eleger o Lula quando furamos a bolha e conquistamos parte do eleitorado do Bolsonaro”.

“Despolarizar” é uma ideia martelada pelos adeptos da “terceira via” e pela grande mídia. Pressupõe que nenhum “polo” serve, e o PT é um deles, o representante da esquerda no tabuleiro. Para ser justo, é preciso reconhecer: na entrevista, encarada no PT como uma espécie de lançamento precoce da candidatura interna, Edinho declarou: “O PT jamais vai fazer o giro para o centro”.

Falcão é contra falar em “despolarização”, pois acredita que a divisão do Brasil é um dado da realidade desde a época em que do lado oposto ao PT estava o PSDB de Fernando Henrique, José Serra e Aécio Neves.

O outro movimento de Edinho foi uma visita à embaixada dos Estados Unidos em Brasília, publicizada pelo próprio ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara (SP) nas redes sociais. Lá ele conversou com a chefe da seção política, Holly Loomis. “Fui convidado para uma visita à Embaixada dos EUA, para um diálogo sobre os cenários da política nacional e internacional para o próximo período”, tuitou à época.

Nos últimos dias, Falcão foi à embaixada da Palestina em Brasília e divulgou no Instagram uma foto da visita antes de anunciar sua candidatura a presidente do PT. “Em solidariedade irrestrita ao povo palestino, exemplo de luta e dignidade, visitei a embaixada da Palestina e fui recebido pelo embaixador Ibrahim Alzeben. Os aliados do PT são os que lutam contra o colonialismo e o imperialismo”, escreveu.

“A ação do Trump (na questão Palestina e “tarifaço”, por exemplo) escancara a existência do imperialismo”, diz Falcão, em referência à conduta do republicano sobre a Palestina e com seu tarifaço.

“Imperialismo” e “neoliberalismo” não são os únicos temas que o deputado quer discutir na eleição petista. Oontrole absoluto dos meios de comunicação por empresas privadas, necessidade de regular as redes sociais para coibir mentiras, fim da escala 6 por 1 na jornada de trabalho e combate ao racismo e à devastação ambiental também fazem parte de sua plataforma.

É, em suma, uma campanha que pretende se colocar à esquerda de Edinho. E que se choca com a vontade de Lula. Embora nunca tenha dito publicamente, o ex-ministro é o candidato preferido do presidente da República e tem ido com frequência ao Palácio do Planalto. Numa de suas passagens por lá neste ano, um colaborador lulista encontrou-o e comentou: “Você deveria vir para o governo”. “Isso aí é com o seu chefe”, brincou Edinho.

O gabinete presidencial fica no terceiro andar do Planalto, um prédio de quatro pisos. Eis porque, em 2 de abril, Francisco Rocha, o Rochinha, um dos cabeças da corrente interna majoritária no PT, a Construindo um Novo Brasil, disse à Folha, sobre quem vier a rivalizar com Edinho: “Vai enfrentar resistência da militância e se resolver com o terceiro andar do Palácio do Planalto”.

“Não é uma candidatura contra o Lula”, afirma Falcão, a propósito da própria disposição de bater chapa com o ex-prefeito. É, segundo ele, a favor do PT e de um petismo que precisa pensar no que será no pós-Lula.

Em 6 de março, Lula foi ao apartamento de Gleisi Hoffmann em Brasília. Era o último dia dela no comando do PT, cargo que deixaria para ser ministra das Relações Institucionais. Na residência, estavam alguns dirigentes do partido e era preciso escolher quem tocaria o barco até 6 de julho, a data da eleição interna. Lula se surpreendeu ao ouvir queixas contra Edinho. “Não sabia que havia tanta resistência ao Edinho”, disse ele, conforme relatos do encontro.

Já há dois candidatos inscritos na eleição petista: Romênio Pereira, atual secretário de Relações Internacionais, e Valter Pomar, antigo ex-ocupante da secretaria. Ambos pertencem a alas minoritárias do PT. A entrada em cena de Falcão, interlocutor frequente de Lula e seu ex-colaborador na campanha de 2022, é a maior expressão da “resistência” a Edinho.



Por:Carta Capital

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