30.3 C
Manaus
terça-feira, 3 junho, 2025
InícioBrasilUniversidades negociam em segredo com governo Trump para evitar ataques

Universidades negociam em segredo com governo Trump para evitar ataques

Date:


Líderes de universidades dos EUA têm negociado nos bastidores com o assessor de Trump, Stephen Miller, na esperança de evitar o mesmo ataque agressivo feito à Harvard, segundo a CNN apurou com uma pessoa familiarizada com o assunto.

O movimento acontece enquanto o governo busca intensificar as represálias contra a universidade e outras instituições de ensino do país.

Representantes do ensino superior, que tiveram conversas detalhadas com a estrategista sênior de políticas da Casa Branca, May Mailman, nas últimas semanas, estão se perguntando quais sinais precisam dar para se manterem fora da mira do governo, afirmou a fonte.

Mailman trabalha em estreita colaboração com Miller – um arquiteto da estratégia do governo para atingir faculdades devido a preocupações de que elas não estejam policiando suficientemente o suposto antissemitismo em seus campi.

Por sua vez, uma autoridade da Casa Branca falou que o governo Trump está transmitindo aos líderes que “o dinheiro simplesmente não pode e não fluirá sem cessar como tem acontecido – e que as universidades são incubadoras de discriminação e que o contribuinte não pode sustentar isso”.

Essas conversas ocorrem enquanto algumas lideranças de ensino viajam a Washington e no momento em que o governo investiga dezenas de institutos de ensino.

A Casa Branca busca fechar um acordo com uma instituição de alto nível, disse à CNN a primeira fonte, que está envolvida na resposta ao ensino superior.

“Eles querem que uma universidade de renome faça um acordo como os escritórios de advocacia fizeram, que abranja não apenas antissemitismo e protestos, mas também a diversidade”, informou a pessoa familiarizada com o assunto.

“Também esperam que Trump possa se posicionar e dizer que fez um acordo com fulano de tal – uma universidade da Ivy League, algum tipo de instituição de ensino de renome que lhes dê cobertura para que possam dizer: ‘Não queremos destruir o ensino superior’.”

Questionada se alguma das universidades estaria inclinada a fazer tal acordo, a fonte respondeu: “Ninguém quer ser a primeira, mas as pressões financeiras estão se tornando reais.”

Muitas instituições já sofreram cortes significativos no financiamento federal, e há uma incerteza crescente sobre o futuro dos vistos para estudantes internacionais, que têm maior probabilidade de pagar a mensalidade integral em comparação aos americanos.

“O presidente está sempre disposto a fazer um acordo que beneficie os Estados Unidos, e isso tem sido verdade para qualquer entidade de ensino superior disposta a adotar o bom senso, parar de violar a lei e se comprometer a restaurar os direitos civis e a ordem nos campi”, falou o funcionário da Casa Branca.

“O governo só está disposto a trabalhar com entidades que operem de boa fé e não apenas da boca para fora, sem ações tangíveis. Muitas instituições de ensino querem fechar um acordo, e o presidente está disposto a trabalhar com elas”, afirmou a fonte à CNN.

Reações de outras universidades nos EUA

Autoridades de outras universidades aguardam que a Casa Branca desvie a atenção de Harvard.

Um membro do conselho de uma grande faculdade visada pela força-tarefa, que teve o anonimato garantido para falar livremente, descreveu as comunicações como “irregulares”, mas falou que o grupo tem feito repetidas tentativas para que a liderança da instituição venha a Washington para uma reunião.

“Há pouco entusiasmo por isso. Não temos nenhum interesse em ser a escola modelo deles ou algo assim”, falou o integrante.

“Neste momento, nos sentimos muito confortáveis ​​com as medidas que tomamos e não temos necessidade de lutar contra o governo, a menos que eles decidam mexer com nossos valores fundamentais. Quando chegar a hora, estaremos prontos para combatê-los. Mas isso não significa que precisamos provocá-los”, disse.

Algumas universidades em todo o país contrataram consultores e especialistas políticos para responder a algumas das demandas do governo, enquanto Harvard lançou uma estratégia jurídica agressiva e está organizando redes de ex-alunos.

Os esforços para atingir a Universidade Harvard começaram antes mesmo do retorno do presidente Donald Trump ao cargo, com aliados do republicano argumentando que estão reprimindo o antissemitismo no campus em meio à guerra entre Israel e o Hamas.

Mas as ações do governo se estendem a uma agenda mais ampla – criando um grande conflito sobre liberdade acadêmica, financiamento federal e supervisão do campus – e à crença dentro da Casa Branca de que se trata de uma questão política vencedora para Trump.

A repressão é liderada pela Força-Tarefa de Combate ao Antissemitismo, um grupo de diferentes agências federais que se reúne pelo menos uma vez por semana, e mantém comunicação regular sobre onde concentrar seu foco, explicou uma autoridade de Washington.

No comando está o ex-personalidade da Fox News e advogado de direitos civis que se tornou alto funcionário do Departamento de Justiça, Leo Terrell.

O assessor de Trump, Stephen Miller, e a estrategista sênior de políticas da Casa Branca, May Mailman, também são forças propulsoras por trás da tomada de decisões, disseram fontes.

Manifestantes participam de ato pró-palestinos na Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts, EUA • Brian Snyder/Reuters (14.out.23)
Manifestantes participam de ato pró-palestinos na Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts, EUA • Brian Snyder/Reuters (14.out.23)

Próximos alvos do governo americano

O governo americano tem se mostrado satisfeito com as medidas tomadas por algumas escolas. As instituições receberam elogios por seguir as metas iniciais para o cumprimento das demandas, incluindo esforços para desmantelar programas de diversidade, equidade e inclusão e reprimir protestos nos campi.

Há dúvidas sobre quais o governo poderia atacar a partir de agora.

O alto funcionário do Departamento de Justiça, Leo Terrell, sugeriu na semana passada que “processos judiciais massivos” estão a caminho e teriam como alvo o sistema da Universidade da Califórnia, entre outras.

“Processos judiciais massivos contra o sistema da Universidade da Califórnia são esperados… Na costa leste, oeste, centro-oeste, acusações de crimes de ódio movidas pelo governo federal também são previstos. Processos do Título VII contra aqueles indivíduos que não estão sendo protegidos simplesmente por serem judeus”, afirmou Leo Terrell à Fox News.

Quando questionada sobre as ameaças de Terrell, Rachel Zaentz, porta-voz da Universidade da Califórnia (chamada de UC pelos americanos), disse que a instituição está cooperando com o governo Trump.

“A instituição abomina o antissemitismo e está trabalha para lidar com o problema, combatê-lo e erradicá-lo em todas as suas formas. Temos cooperado e planejamos continuar cooperando com a Administração.” disse Zaentz.

“O antissemitismo não tem lugar na UC ou em qualquer outro lugar da sociedade. A universidade permanece totalmente focada em fortalecer nossos programas e políticas para erradicar o antissemitismo e todas as formas de discriminação”, acrescentou.

Um funcionário da Casa Branca disse à CNN no mês passado que a força-tarefa estava em discussões com Harvard e Columbia, bem como com a Universidade Northwestern, a Cornell e a de Michigan.

Um comunicado à imprensa do Departamento de Justiça em fevereiro também identificou as Universidade George Washington, a Johns Hopkins, a Universidade de Nova York, da Califórnia, Berkeley, de Minnesota, e a do Sul da Califórnia como “campi que sofreram incidentes antissemitas desde outubro de 2023”.

Diretores universitários têm vindo a Washington para se reunir com funcionários da administração, portanto, nenhuma visita ao campus foi necessária, segundo um alto integrante da administração.

A CNN entrou em contato com cada uma das instituições de ensino nomeadas pelo governo Trump para obter comentários.

Declarações da Universidade do Sul da Califórnia e da de Minnesota denunciaram o antissemitismo e afirmaram que as instituições de ensino se envolveriam com a força-tarefa nos esforços para combatê-lo.

Batalha contínua com Harvard

E mesmo analisando outras instituições de ensino, a administração não tira os olhos de Harvard, com a qual está envolvida em diversas batalhas judiciais.

Também foi iniciada uma apuração sobre as fontes de financiamento estrangeiras por meio de uma disposição da Lei do Ensino Superior que exige a divulgação de doações e contratos internacionais, chamada Seção 117.

Uma investigação anterior sobre a universidade, baseada na seção, foi recentemente encerrada.

“Como prática padrão, Harvard apresenta relatórios da Seção 117 há décadas, como parte do cumprimento contínuo da lei. Conforme exigido, os relatórios incluem informações sobre doações e contratos de fontes estrangeiras que excedem US$ 250 mil anualmente”, explicou Jason Newton, porta-voz da Universidade de Harvard, em um comunicado.

“Isso inclui contratos para fornecer educação executiva, outros treinamentos e publicações acadêmicas”, acrescentou Newton, observando que os registros de Harvard refletem “fontes diversas” de apoio à instituição.

Próximos passos

Mensageiros do governo Trump deram sinais mistos sobre como o processo avança.

A fonte familiarizada com a resposta ao ensino superior questionou a vontade para prosseguir em um ritmo agressivo.

“Se você for atrás de Harvard, com que força conseguirá continuar? As universidades estão sendo manipuladas como um ioiô por semanas. Meu palpite é que, em algum momento, a Casa Branca perderá o interesse nisso”, disse a fonte.

“Depois de derrubar Harvard, para onde você irá? Eles são tão conscientes das marcas quanto qualquer outra pessoa”, acrescentou.

No fim das contas, segundo a fonte, o mercado domina: “O que vai acontecer com Harvard ou Columbia? O número de candidatos é recorde, o rendimento é recorde. Aposto que, se você conversasse com os eleitores do Maga (Movimento Make America Great Again) na Charlotte Country Day School ou nas The Westminster Schools, eles podem ter votado em Trump, mas estão se afastando da Ivy League? Claro que não. As escolas estão tendo uma demanda recorde.”

Enquanto isso, a secretária de Educação, Linda McMahon, sugeriu que ainda há esperança para negociações com Harvard, com quem o alto funcionário do governo disse que a administração não está em negociações no momento.

“Esperamos realmente voltar à mesa de negociações, falando sobre as coisas que são boas para Harvard e para os alunos que estão no campus”, falou McMahon.

O alto funcionário do Departamento de Justiça, Leo Terrell adotou um tom diferente.

“Vamos persegui-los onde isso os prejudica financeiramente, e há inúmeras maneiras – espero que vocês consigam ler nas entrelinhas – há inúmeras maneiras de prejudicá-los financeiramente”, alertou ele à Fox News.

Questionado sobre quando isso terminaria, Terrell disse: “Não podemos especular. Temos que colocar essas universidades de joelhos”, alertou.



Fonte: CNN Brasil

spot_img
spot_img
Sair da versão mobile