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sexta-feira, 16 maio, 2025
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Um oceano de oportunidades – CartaCapital

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A ministra do Planejamento, Simone Tebet, é a principal articuladora, pelo governo ­Lula, das “Rotas de Integração Sul-Americana”, projeto que busca facilitar o comércio entre os países do continente e reduzir o tempo e o ­custo do transporte de mercadorias entre o Brasil e a Ásia, por meio do Oceano Pacífico. Durante a preparação da iniciativa, ­Tebet viajou à maioria dos países da América do Sul. Só não esteve na Venezuela, no Equador e na Argentina. Esta última, governada pelo ultradireitista Javier­ ­Milei, ela pretende visitar em breve.

A ministra integrou a comitiva do presidente Lula na recente viagem oficial à China, onde discutiu as “rotas” com autoridades locais. Um dos temas centrais foi a possível construção de uma ferrovia que atravesse o Brasil de Leste a Oeste, um projeto de grande interesse para os chineses. Segundo Tebet, uma estrada de ferro com essa configuração promoveria “uma mudança radical” no mapa econômico do País, com impactos diretos nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, além do interior do Sudeste.

Antes de embarcar para a Ásia, a ministra falou sobre a viagem e as “rotas” ao repórter especial André Barrocal no programa Poder em Pauta, do canal de CartaCapital no YouTube. A seguir, trechos da entrevista.

Aposta do governo

A gente trata dessas rotas e da integração com a China desde o primeiro mês do governo Lula 3. Quando o presidente recebeu todos os chefes de Estado da América do Sul (em maio de 2023), eles fizeram um pacto no Consenso de Brasília, que ressalta a importância da integração sul-americana e da América Latina. Integração econômica, social e cultural. Pelo Consenso de Brasília, para fortalecer a democracia, diminuir a desigualdade social e erradicar a miséria, era fundamental que esses países pudessem integrar-se de forma mais firme, especialmente no comércio.

Dupla missão

As rotas têm um duplo objetivo ou missão. A primeira é aumentar a relação comercial do Brasil com os países da América do Sul, e vice-versa. Somos mais de 200 milhões de brasileiros e temos 200 milhões de sul-americanos prontos para fazer turismo por aqui, comprar os nossos produtos, estreitar as relações culturais e comerciais. Paralelamente, temos um segundo ganho, que é o fato de estarmos geo­graficamente muito mais próximos da China pelo Pacífico do que pelo Atlântico. E isso a própria China percebeu, quando fez seu maior investimento no Peru, o Porto de Chancay, inaugurado recentemente. Em linha reta, é o ponto mais curto entre a América do Sul e a China, diminui em pelo menos 10 mil quilômetros marítimos a distância daqui para lá.

Futuro via Pacífico

Temos uma mudança do eixo econômico no mundo, ele está se deslocando para o Pacífico, para a Ásia, até por uma razão populacional. Lá está a maior população do planeta, com a China e a Índia. E qual é o maior parceiro comercial hoje do Brasil? É a China, só depois temos EUA, Europa e Argentina. Se quisermos garantir taxa de desemprego praticamente zero, tirar a população da miséria, ter desenvolvimento humano alto, sem dúvida, o futuro é esse. E o Brasil tem essa consciência. O agronegócio, que já teve receio, hoje fala disso, sabe que o nosso maior parceiro é a China e que a gente tem de mirar todas as nossas energias para aproximar essa relação.

“Estamos muito mais próximos da China pelo pacífico do que pelo atlântico”

Qualificação comercial

O bom relacionamento do presidente Lula com o governo chinês pode qualificar, temos de aproveitar isso, e estamos aproveitando. Mas o que vai mesmo mobilizar e qualificar, e é isso que queremos, porque traz valor agregado, é o fortalecimento da indústria. Ela começa a se fortalecer, e se fortalecerá mais especialmente a partir de 2027, quando estará valendo a primeira etapa da reforma tributária. Paralelo a isso temos a energia mais limpa do mundo. O programa “Nova Indústria Brasil” traz esse componente climático, e teremos uma lei do crédito de carbono do Brasil também.

China e ferrovias

Sem dúvida, o know-how pode ser compartilhado, a China não teria problema em compartilhar. Só faço duas ponderações. A gente tem de preservar os biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado. São regiões que requerem, sim, licenciamento ambiental. Mas isso é superável com um traçado que preserve o meio ambiente. A segunda questão é capital. No Brasil, não há dinheiro suficiente para investir em ferrovia com tantas desigualdades e necessidades. Precisamos dessa parceria de investimento brasileiro e estrangeiro. A China tem interesse, porque também ganha com isso. Eles estão muito interessados em ajudar a rasgar o Brasil de ferrovias. Com exceção da China e, talvez, dos EUA, não existe dinheiro público suficiente para fazer ferrovia, é muito caro.

Fator Milei

Tivemos eleição na Argentina no meio dessa discussão das rotas. De todos os países da América do Sul, não fui a três: Venezuela, Equador e Argentina. Mas tive a oportunidade de encontrar duas vezes o ministro de Fazenda da Argentina, que se mostrou absolutamente entusiasmado com o projeto. Vamos ser sinceros, ninguém rasga dinheiro. A Argentina sabe a importância do Brasil. Se ela não quiser ter inflação para o seu povo, que já não é pequena, que é muito alta, se ela quiser ter desenvolvimento, se ela quiser avançar enquanto país, ela precisa do Brasil. Em breve, irei à Argentina. •

Publicado na edição n° 1362 de CartaCapital, em 21 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Um oceano de oportunidades’





Por:Carta Capital

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