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Um estudo revelou um aumento na ingestão de mercúrio em seis estados da Amazônia.

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O consumo de mercúrio atingiu níveis críticos em seis estados da Amazônia, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace Brasil, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil, divulgado nesta terça-feira (30/05/2023). O estudo buscou avaliar o risco para a saúde humana devido ao consumo de peixes contaminados, e para isso, foram visitados mercados e feiras em 17 cidades amazônicas, onde foram compradas as amostras utilizadas na pesquisa.

Em todas as camadas populacionais analisadas, a ingestão diária de mercúrio excedeu a dose recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No município mais crítico, Rio Branco (AC), a potencial ingestão de mercúrio foi de 6,9 a 31,5 vezes maior que a dose de referência indicada pela EPA – Agência de Proteção Ambiental do governo norte-americano (0,1 μg/kg pc/dia). As mulheres em idade fértil, que são o grupo mais vulnerável aos efeitos do mercúrio, estariam ingerindo até 9 vezes mais mercúrio do que o recomendado, enquanto crianças de 2 a 4 anos estariam ingerindo até 31 vezes mais.

Em Roraima, o segundo estado mais crítico, a potencial ingestão de mercúrio ultrapassou de 5,9 a 27,2 vezes a dose de referência. Considerando os estratos populacionais mais vulneráveis à contaminação, mulheres em idade fértil estariam ingerindo até 8 vezes mais mercúrio do que o recomendado, e crianças de 2 a 4 anos até 27 vezes mais. No Amazonas, a Feira da Manaus Moderna foi uma das referências do estudo.

Segundo os pesquisadores, este é o primeiro estudo a avaliar os principais centros urbanos amazônicos espalhados pelos seis estados. Ele reforça um alerta sobre um problema já conhecido, mas não resolvido, que é o risco à segurança alimentar na região amazônica causado pelo uso de mercúrio na atividade garimpeira. É preocupante que a principal fonte de proteína na região, quando consumida sem controle, possa causar danos à saúde devido à contaminação por mercúrio, afirmam os especialistas.

Os efeitos da contaminação por mercúrio são especialmente graves para as mulheres grávidas, uma vez que o feto pode sofrer distúrbios neurológicos, danos aos rins e ao sistema cardiovascular. As crianças também podem apresentar dificuldades motoras e cognitivas, incluindo problemas na fala e no processo de aprendizagem. Esses efeitos são perigosos e muitas vezes irreversíveis, podendo surgir meses ou anos após a exposição. Os pesquisadores alertam que é urgente a criação de políticas públicas para ajudar as pessoas já afetadas pela contaminação por mercúrio e implementar medidas preventivas e de controle do uso do mercúrio.

Sobre o estudo

O estudo foi realizado de março de 2021 a setembro de 2022 nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Foram coletadas amostras em 17 municípios amazônicos, incluindo 1.010 exemplares de peixes de 80 espécies diferentes, adquiridos em mercados, feiras e diretamente com pescadores, simulando o consumo diário dos moradores locais.

Entre as amostras, 110 eram peixes herbívoros, 130 detritívoros, 286 onívoros e 484 carnívoros. Os peixes carnívoros, que são mais consumidos pela população, apresentaram níveis de contaminação mais altos do que as espécies não carnívoras. A análise comparativa entre as espécies indicou que a contaminação é 14 vezes maior nos peixes carnívoros em comparação com os não carnívoros. Por isso, o estudo faz recomendações de consumo para as principais espécies de peixes amostradas, levando em consideração o nível de contaminação e a localidade.

Os pesquisadores enfatizam a necessidade de um maior controle do território amazônico e a erradicação dos garimpos ilegais e outras fontes de emissão de mercúrio para o ambiente. Além da degradação ambiental, os garimpos ilegais trazem consigo tráfico de drogas, armas e animais silvestres, além da exploração sexual. Portanto, o Estado precisa garantir um maior controle e segurança para as populações locais. Além disso, a fiscalização do desmatamento e das queimadas também reduz a exposição ao mercúrio, uma vez que afetam a dinâmica dos solos, rios e igarapés, destaca um especialista em conservação do WWF-Brasil.

O estudo envolveu a coleta de amostras de peixes em 17 municípios amazônicos, abrangendo seis estados. Os níveis de mercúrio foram detectados por meio de espectrometria de absorção atômica nos laboratórios do CETEM – Centro de Tecnologia Mineral (RJ) e do IEC – Instituto Evandro Chagas (PA). A avaliação do risco à saúde associado ao consumo de peixes contaminados foi calculada com base nos parâmetros da US EPA – Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Foram considerados quatro grupos populacionais: mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), homens adultos (≥ 18 anos), crianças de 5 a 12 anos e crianças de 2 a 4 anos.

A estimativa de consumo de peixes por pessoa baseou-se em relatórios sobre o consumo de peixes na região amazônica do Brasil, com uma média per capita de 100 gramas de peixe por dia em áreas urbanas. Também foi calculada a razão de risco (RR), que indica o potencial de danos à saúde causados pelo consumo de peixes contaminados, e a avaliação de risco à saúde.

Com informações da Assessoria de imprensa Greenpeace Brasil e WWF-Brasil

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