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sexta-feira, 14 março, 2025
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Trump minimiza Brasil, mas realidade econômica diz o contrário

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Donald Trump despreza Brasil e a América Latina em seu discurso, mas especialistas afirmam que os EUA não podem ignorar a importância econômica da região.

O que Trump disse?

No dia 20 de janeiro, ao reassumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou que os EUA não precisam da América Latina. A declaração, dada à jornalista Raquel Krähenbühl, reforça sua retórica agressiva. “Eles precisam de nós muito mais do que nós precisamos deles”, disse, referindo-se ao Brasil com desdém.

Apesar do tom provocativo, economistas brasileiros analisam que essa postura é um blefe. Segundo Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UERJ, “quem desdenha quer comprar”. Para ele, Trump tenta impor condições mais vantajosas ao Brasil.

Brasil como peça estratégica

A economista Juliane Furno destaca que o Brasil tem peso geopolítico e não pode ser descartado. Durante os governos do PT, o país buscou autonomia na política externa e fortaleceu o grupo dos BRICS, o que reduziu a influência dos EUA no Sul Global.

Trump deseja reverter essa perda de espaço. No entanto, pressões econômicas podem ter efeito contrário, empurrando o Brasil ainda mais para a China. Segundo Furno, “sancionar o Brasil seria um suicídio político para os EUA”.

A influência chinesa na América Latina

A China expandiu sua presença na América Latina, tornando-se o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. Esse avanço incomoda os EUA, que veem sua hegemonia ameaçada. Neusa Bojikian, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os EUA, ressalta que empresas americanas não querem perder mercado para os chineses.

A Chevron e a ExxonMobil, gigantes do setor de petróleo, são exemplos de corporações que dependem de negócios no Brasil. Dados da Amcham Brasil mostram que há quase 4 mil empresas americanas atuando no país. Os EUA, inclusive, lideram o ranking de investimentos estrangeiros no Brasil, com US$ 357 bilhões aplicados.

O comércio bilateral entre Brasil e EUA

Apesar das declarações de Trump, os EUA mantêm um comércio sólido com o Brasil. O país é o 9º maior importador de produtos americanos e o 18º maior exportador para os EUA. Em 2024, as transações bilaterais movimentaram cerca de US$ 80,8 bilhões.

Entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA estão petróleo, ferro, aço, aviões e café. Já os americanos vendem ao Brasil motores, máquinas e medicamentos, insumos essenciais para a economia brasileira.

José Luis Oreiro, economista da Universidade de Brasília, ressalta que seria um erro subestimar o Brasil. “Ignorar essa parceria seria uma arrogância e burrice inacreditável”, afirma.

Retórica ou estratégia?

Trump é conhecido por seu estilo agressivo de negociação. Seu livro A Arte da Negociação detalha essa tática: desvalorizar o outro lado para obter melhores condições.

Bruno de Conti, economista da Unicamp, destaca que, apesar do discurso, Trump não quer um Brasil hostil. “O Brasil continua sendo estratégico para os EUA, tanto economicamente quanto geopoliticamente.”

Dessa forma, a frase “os EUA não precisam do Brasil” é mais um movimento político do que um reflexo da realidade econômica.

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