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quinta-feira, 13 março, 2025
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Transição energética: a nova face da exploração global

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A transição energética e os interesses econômicos globais

A crise climática global ocupa o centro dos debates públicos e das políticas internacionais. A pressão social por estratégias efetivas de enfrentamento aumenta, sobretudo em função de acordos como o Acordo de Paris, firmado em 2015 por 195 países. Esse acordo visa limitar o aumento da temperatura global a 2°C acima dos níveis pré-industriais.

Nesse cenário, governos e corporações apostam na chamada transição energética. Esse processo busca substituir a matriz energética baseada em combustíveis fósseis por alternativas consideradas renováveis e de baixo carbono, como energia solar, eólica e veículos elétricos. Contudo, apesar do discurso sustentável, a transição tem gerado conflitos socioambientais em países periféricos, que fornecem os minerais essenciais para essa nova economia.

Descarbonização e novos desafios ambientais

A transição energética, em tese, visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), especialmente o gás carbônico. No entanto, essa mudança exige a extração intensiva de minerais críticos, como lítio, grafite, cobalto e bauxita. Esses recursos são fundamentais para tecnologias consideradas “verdes”, como baterias de carros elétricos e turbinas eólicas.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a capacidade instalada de energia solar deverá triplicar entre 2020 e 2040, enquanto a geração eólica mais do que dobrará. O Banco Mundial, por sua vez, projeta um aumento de 500% na demanda por minerais críticos até 2050. Esse crescimento intensifica a exploração de recursos em regiões vulneráveis, gerando uma nova forma de colonialismo ambiental.

Exploração de países periféricos e conflitos socioambientais

A transição energética, embora promovida como solução para a crise climática, tem agravado desigualdades globais. Países centrais, como os membros da União Europeia, estruturam políticas como o Green Deal, que visa descarbonizar suas economias até 2050. Contudo, essa modernização ocorre às custas da exploração de terras e bens naturais em nações da América Latina e da África.

No Brasil, a expansão das usinas eólicas e das operações de mineração tem gerado conflitos territoriais e ambientais. Segundo o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, as mineradoras avançam com um discurso de sustentabilidade para legitimar a exploração e minimizar as críticas.

A renovação do setor mineral ocorre em resposta a uma crise de legitimidade, aprofundada por desastres como os de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Essas tragédias expuseram os riscos socioambientais da atividade mineral, mas não interromperam a busca por novos territórios de exploração.

Impactos invisíveis da transição energética

A chamada “energia verde” carrega em sua esteira uma série de impactos devastadores. Comunidades atingidas por projetos de energia renovável denunciam:

  • Desapropriação de terras e grilagem verde;
  • Poluição sonora, que causa problemas de saúde;
  • Privatização de áreas comuns, como territórios pesqueiros;
  • Exploração sexual de crianças e adolescentes em áreas de construção;
  • Falta de consulta prévia às comunidades afetadas.

Reportagens recentes destacam a prática de grilagem por empresas do setor, que incorporam terras de pequenos agricultores e as arrendam para multinacionais, como a Enel, para a construção de parques eólicos. Esse fenômeno, conhecido como “grilagem verde”, revela a contradição entre o discurso de sustentabilidade e as práticas predatórias no campo.

Uma transação econômica disfarçada de transição energética

Apesar do avanço das energias renováveis, a matriz energética brasileira ainda depende fortemente de combustíveis fósseis. Em 2024, o Brasil registrou uma produção média de 4,322 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Além disso, o petróleo se tornou o principal produto de exportação do país, superando a soja.

A transição energética, longe de substituir fontes poluentes, tem funcionado como uma estratégia de diversificação. Isso reforça a exploração de territórios tradicionais e intensifica os conflitos socioambientais, principalmente no Nordeste brasileiro, onde há mais de 3.746 projetos de energia renovável em andamento.

Organizações como o Movimento dos Atingidos por Renováveis (MAR) denunciam que a transição energética tem, cada vez mais, a face de uma transação econômica. Esses movimentos buscam visibilizar os impactos ocultos dessa nova corrida por recursos, defendendo o lema: “Renovável sim, mas não assim”.

Em suma, a transição energética, embora necessária para mitigar a crise climática, precisa ser debatida de forma crítica. Sem um modelo que respeite os direitos das comunidades e proteja os ecossistemas, o processo se torna uma nova forma de exploração, travestida de sustentabilidade.

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