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domingo, 15 junho, 2025
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São Paulo inspira debate sobre soluções para o Centro de Manaus em audiência pública

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Modelo adotado na “Cracolândia” é apresentado como referência em encontro que reuniu autoridades e lideranças para discutir segurança, moradia e revitalização urbana

Manaus busca modelo de São Paulo para enfrentar crise social e urbana no Centro

A crise urbana e social que atinge o Centro de Manaus foi tema central de uma audiência pública realizada nesta sexta-feira (13), promovida pela 22ª Comissão de Segurança Pública da Câmara Municipal de Manaus (CMM). Realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), o encontro teve como foco o avanço da população em situação de rua, o aumento da criminalidade e o esvaziamento comercial da região.

Intitulada “Salve o Centro”, a audiência reuniu vereadores, representantes do governo municipal e estadual, lideranças comerciais, sociedade civil e especialistas da segurança pública. O evento também contou com a presença do vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo, que apresentou o modelo de enfrentamento adotado na capital paulista para a chamada “Cracolândia” como uma referência que pode ser adaptada à realidade manauara.

Experiência paulista como ponto de partida

Coronel Mello Araújo destacou que a realidade de Manaus é, proporcionalmente, menos complexa que a de São Paulo, o que facilitaria a implementação de um plano mais ágil e eficaz.

“Eu vejo que aqui, como é bem menor a quantidade, as coisas conseguem acontecer muito mais rápido do que em São Paulo. Em São Paulo, saímos de um número de 4 mil dependentes químicos. Aqui, vejo que a solução está muito mais fácil, muito mais rápida de acontecer”, disse o vice-prefeito, elogiando a iniciativa da audiência pública e a disposição política do vereador Coronel Rosses (PL), propositor do encontro.

Problema estrutural exige articulação entre os poderes

O vice-governador do Amazonas, Tadeu de Souza (Avante), também participou da audiência e classificou a situação do Centro como uma “desfuncionalidade social” que exige esforço conjunto de todas as esferas de governo. Para ele, ações isoladas não resolvem a questão e podem apenas transferir o problema de lugar.

“O trabalho que a prefeitura faz sozinha não vai dar conta. O Estado, com o poder que tem de repressão, também não vai dar conta. É necessário que o Governo Federal atue junto com as forças de segurança do Estado, que a própria Secretaria Assistencial e o Estado e o Município tenham programas contínuos, ações cooperativas”, destacou Tadeu.

O vice-governador ainda comparou a situação local à paulista: “Um estado rico como São Paulo tem problemas de Cracolândia há 30 anos. Enfrentar esse desafio exige planejamento de longo prazo e compromisso político.”

Falta de integração preocupa autoridades do Judiciário

Durante a audiência, a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima (MPT AM/RR), Alzira Melo Costa, apontou a ausência de uma política pública integrada para lidar com a população em situação de rua.

“Cada secretaria faz sozinha, por sua conta, ações que violam o direito da população em situação de rua. Isso é muito preocupante, porque muitas dessas pessoas são trabalhadores honestos, vivem de trabalho informal, não têm moradia fixa e precisam de um apoio coordenado e integrado de todos os entes federativos”, alertou a procuradora.

Alzira também enfatizou que não se pode tratar esse grupo de forma homogênea. “Existem usuários de drogas, pessoas em débito com a Justiça, mas também há quem foi expulso de casa por não conseguir mais pagar aluguel. O tratamento precisa ser humanizado e individualizado.”

Impacto econômico e social no comércio local

Outro destaque da audiência foi o posicionamento da Associação Comercial do Amazonas (ACA), representada por seu presidente, Bruno Loureiro. Ele reforçou que a deterioração do Centro tem causado prejuízos diretos ao setor produtivo.

“Muitas empresas saíram do Centro, então isso acabou se tornando um ambiente propício para a situação que temos hoje. Não é um problema de agora, é um processo acumulado de abandono por parte dos governos estadual, federal e municipal”, lamentou.

Plano de ação será proposto à Prefeitura e ao Governo do Estado

O presidente da Comissão de Segurança Pública da CMM, vereador Coronel Rosses (PL), afirmou que a audiência pública foi o primeiro passo para construir um plano de ação robusto, baseado em experiências bem-sucedidas como a de São Paulo.

“Nosso papel agora é criar uma força de coalizão entre Estado, Município e sistema de defesa social de Manaus, para que a gente tenha uma solução. Há como reconstruir o Centro da cidade, resolver o problema daqueles moradores que estão ali, do tráfico de drogas intenso. Basta ter força política, bom senso e senso de responsabilidade”, defendeu o parlamentar.

Rosses se comprometeu a levar as propostas discutidas à Prefeitura de Manaus e ao Governo do Estado, e se colocou à disposição para liderar a articulação entre os entes, caso haja consenso político.

“Se houver aceitação do Governo e da prefeitura, estarei disposto a começar esse trabalho, encabeçando esse projeto. Se acharem que tem outra pessoa, não tem problema nenhum. O importante é que Manaus não continue sendo a mesma. O primeiro passo é agir”, finalizou.

Dados reforçam urgência de medidas estruturais

De acordo com levantamento recente da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), o Centro de Manaus é atualmente a segunda região mais perigosa da capital, atrás apenas da Zona Norte. O bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste, aparece em terceiro lugar.

Os dados reforçam a urgência de uma resposta articulada entre os poderes para recuperar o espaço urbano, garantir segurança à população e reativar o comércio local, que há anos sofre com a falta de políticas públicas integradas e sustentáveis.

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