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A guerra comercial entre Estados Unidos e China parece ter chegado ao fim. Foram dois dias de negociações intensas em Londres, na Inglaterra, e que resultaram em um novo acordo comercial entre as principais potências do mundo.
O entendimento pode aliviar as tensões globais e reorganizar o fornecimento de minerais estratégicos, caso das terras raras. No entanto, deve causar efeitos indiretos (e não necessariamente positivos) em alguns países, caso do Brasil.
China vai garantir o fornecimento de terras raras para os EUA
- O acordo estabelece a manutenção de tarifas de 55% dos Estados Unidos sobre produtos chineses e de apenas 10% por parte da China sobre os bens norte-americanos.
- Mas o ponto mais relevante é o compromisso de Pequim de garantir o fornecimento de matérias-primas essenciais para a fabricação de veículos elétricos, turbinas eólicas, chips e equipamentos de defesa.
- São as chamadas terras raras, elementos químicos presentes na crosta terrestre, mas que são difíceis de se encontrar e explorar em grandes quantidades.
- Hoje, a extração destes recursos está concentrada em apenas alguns países, sendo a China responsável por mais de 70% deste importante mercado.
- Por outro lado, os EUA têm um acesso limitado aos recursos.

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Quais os impactos para o Brasil?
O acordo entre chineses e norte-americanos gera três consequências principais para o nosso país: a pressão sobre sua capacidade de competir em mercados agrícolas, a urgência de investir em cadeias tecnológicas independentes e a oportunidade de se tornar fornecedor alternativo de minerais estratégicos. É o que afirma Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidade Internacional de La Rioja, em artigo publicado no The Conversation.
A primeira delas se manifesta no setor que tradicionalmente sustenta o superávit comercial brasileiro: o agronegócio. A redução de tarifas da China tende a gerar uma substituição parcial de fornecedores, sobretudo em grãos e carnes. A maior competitividade dos produtos de Estados Unidos levaria à queda de preços, exigindo do produtor brasileiro mais eficiência em logística, tecnologia e diplomacia comercial.
Em um momento em que o Brasil enfrenta entraves para renovar acordos com a União Europeia e impasses dentro do Mercosul, a perda relativa de espaço no mercado chinês — seu maior parceiro comercial — tende a enfraquecer a estabilidade de sua balança externa. O pacto entre Washington e Pequim não retira o Brasil da mesa, mas obriga o país a mudar de posição no tabuleiro.
Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidade Internacional de La Rioja

A segunda implicação do acordo é mais estrutural. O Brasil depende da importação de componentes eletrônicos e minerais como nióbio, terras raras e lítio processado ou refinado para desenvolver suas indústrias de transição energética, inteligência artificial e defesa. No entanto, o novo pacto prevê que a Casa Branca terá prioridade no fornecimento destes produtos.
Esse risco revela a fragilidade da inserção brasileira em cadeias globais de valor. Mesmo possuindo reservas minerais expressivas, o país carece de uma política industrial capaz de transformar riqueza geológica em capacidade produtiva e tecnológica. Enquanto China e EUA negociam acesso, volume e previsibilidade, o Brasil continua refém da exportação de commodities brutas e da importação de produtos de alto valor agregado.
Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidade Internacional de La Rioja

Por fim, a terceira consequência diz respeito a uma reorganização das rotas do comércio global, especialmente nos setores mais sensíveis da economia verde e da alta tecnologia. Segundo o especialista, isso significa que o Brasil não pode mais depender exclusivamente de sua posição como fornecedor de alimentos e minérios básicos.
Não se trata de escolher entre China e Estados Unidos, mas de construir autonomia em um mundo cada vez mais fragmentado. O Brasil tem os recursos naturais, o capital humano e o mercado interno para se tornar protagonista — desde que abandone o papel de espectador e assuma uma posição mais ativa e estratégica diante das mudanças globais.
Armando Alvares Garcia Júnior, professor da Universidade Internacional de La Rioja
Fonte: Olhar Digital