Antes mesmo de a população comparecer às urnas no último domingo 13, o clima da eleição no Equador, que colocou frente a frente o presidente Daniel Noboa e a oposicionista Luisa González, já era tenso.
Na véspera do pleito, Noboa, que concorreu pela Ação Democrática Nacional (AND), decretou estado de exceção em Quito e outras sete províncias. A medida foi recebida com preocupação pela equipe de González, que, poucos dias antes, havia denunciado que o governo promoveu mudanças em sua equipe de segurança militar.
Esses foram os atos preparatórios de um processo de inquietação que vive seu auge desde que o Conselho Nacional Eleitoral decretou a vitória de Noboa, jovem herdeiro da família mais rica do país. Com quase 99% das urnas apuradas, Noboa tem 55,6% dos votos, contra 44,4% de Gonzalez.
González, porém, alegou ter havido fraude no pleito. “Não reconhecemos os resultados. Vamos pedir a recontagem dos votos e que abram as urnas. Estamos enfrentando a pior e mais grotesca fraude eleitoral da história do Equador”, disse a oposicionista.
Rafael Corrêa, ex-presidente do Equador e tutor da candidatura de González, endossou as acusações. Exilado na Bélgica desde que deixou o poder, em 2017, ele questionou a margem da vitória de Noboa, sob o argumento de que o resultado seria matematicamente impossível.
Diferença de votos: os argumentos da oposição
Antes da disputa em segundo turno, as principais pesquisas de opinião do Equador mostravam que Noboa e González estavam em empate técnico. De modo geral, os levantamentos davam conta de que a corrida ao Palácio de Carondelet se assemelhava à disputa em primeiro turno, quando a diferença ficou em ínfimos 0,17% dos votos.
Até o momento, a oposição ainda não apresentou provas das supostas irregularidades. A base da denúncia é que não seria possível que a candidatura não tivesse obtido mais votos que no primeiro turno. “Como pode ser verossímil que não tenhamos crescido sequer um voto?”, questionou González.
A candidata ainda diz ter informações de integrantes da Polícia Nacional e das Forças Armadas que lhe asseguram que houve operações de “plantio” de registros de votações em diversas regiões do país.
Corrêa também alega que o resultado divulgado seria impossível. “Vocês sabem que, diferentemente dos nossos adversários, sempre aceitamos a vitória do oponente quando ela é justa. Desta vez não é”, disse o ex-presidente. “Estatisticamente, o resultado é impossível. Luisa teria praticamente o mesmo número de votos do primeiro turno. Eles cometeram uma megafraude, mas cometeram um erro: foram longe demais.”
O escrutínio
O voto é obrigatório no Equador e registrado em papel. A contagem ocorre nos próprios centros de votação, que enviam os dados de maneira eletrônica à autoridade eleitoral do país. Delegados de cada um dos partidos presentes acompanham a votação — esse contingente, formado por 94 mil pessoas, fica com cópias assinadas das atas de votação.
Andrés Arauz, secretário-geral da Revolução Cidadã – coalizão de partidos formada em torno de González –, chegou a apresentar no X imagens de seis atas que supostamente não contam com as assinaturas do presidente e do secretário das sessões eleitorais. Esse é um requisito legal previsto na principal lei eleitoral do Equador, conhecida como Código da Democracia.
Uma etapa importante para saber se as denúncias da oposição terão força ou não acontecerá nesta terça-feira 15, quando a missão de observação eleitoral da União Europeia divulgará seu relatório sobre os votos. Essa missão se soma a um grupo de observadores da Organização dos Estados Americanos. No total, 485 observadores estrangeiros se credenciaram para acompanhar a eleição.
Noboa diz não ter dúvida da vitória
O presidente reeleito não se pronunciou diretamente sobre a denúncia da oposição, mas sinalizou que “não há dúvidas de quem é o vencedor”.
“Este evento foi histórico, esta vitória também foi histórica, uma vitória de mais de dez pontos, uma vitória de mais de um milhão de votos, em que não há dúvidas de quem é o vencedor. E se baseia na perseverança, na luta, no trabalho de cada um dos membros desta equipe que busca este novo Equador”, disse o chefe de Estado.
Logo após o resultado, lideranças regionais reconheceram o resultado e parabenizaram Noboa. O presidente Lula (PT), porém, ainda não se pronunciou sobre os números divulgados pela autoridade eleitoral equatoriana, nem sobre a denúncia do grupo correísta.
Gabriel Boric, presidente do Chile, destacou a participação dos eleitores equatorianos, que chegou a quase 84%. Ele aproveitou para parabenizar González “por contribuir para o fortalecimento do debate democrático com visão e coragem”. O paraguaio Santiago Peña disse que o seu governo está disposto a seguir cooperando com o Equador.
Por:Carta Capital