Cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, é escolhido novo líder da Igreja Católica após morte de Francisco e reforça discurso de paz e inclusão
O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito, nesta quinta-feira (8), o novo papa da Igreja Católica. Aos 69 anos, ele escolheu o nome Leão XIV e torna-se o primeiro pontífice oriundo dos Estados Unidos em mais de dois mil anos de história da instituição. A confirmação oficial veio com a tradicional fumaça branca que subiu da Capela Sistina, no segundo dia de conclave, encerrando o período de Sé Vacante iniciado após a morte do papa Francisco, há 17 dias.
Prevost é considerado próximo ao seu antecessor e defende uma Igreja com perfil mais sinodal e aberto, características que marcaram os 12 anos de papado de Francisco. Ao surgir pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro, após o anúncio de “Habemus Papam” feito em latim pelo cardeal Dominique Mamberti, Leão XIV fez um discurso inaugural centrado na paz e na continuidade.
‘A paz esteja com todos vocês’, diz novo papa
“A paz esteja com todos vocês. Esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado. Eu também gostaria que essa saudação de paz entrasse no coração de vocês”, declarou o novo pontífice em seu primeiro pronunciamento público como papa.
A fala inaugural reforçou o tom conciliador que marca a trajetória de Prevost dentro da Igreja. Ainda na mesma ocasião, ele agradeceu diretamente ao papa Francisco: “Obrigado, papa Francisco”, afirmou, sob aplausos da multidão reunida na Praça de São Pedro.
O novo pontífice também fez um gesto simbólico ao proferir parte do seu discurso em espanhol, agradecendo à Diocese de Chiclayo, no Peru, onde construiu grande parte de sua vida eclesiástica. Foi a primeira vez que um papa falou em espanhol durante um discurso inaugural, além do tradicional italiano.
Um papa da continuidade e do diálogo
Robert Francis Prevost foi nomeado cardeal em 2023 por Francisco, o que já indicava um sinal de prestígio e confiança dentro da Cúria Romana. Seu perfil discreto e diplomático, somado a um histórico pastoral em comunidades da América Latina, fortaleceu sua candidatura como representante de continuidade e unidade dentro da Igreja.
“Queremos ser uma igreja sinodal, que avança, que busca sempre a paz, a caridade, sempre estar próxima, principalmente daqueles que sofrem”, afirmou Leão XIV. A fala sinaliza que sua gestão deve manter a linha reformista de Francisco, mas com possível ênfase em um estilo mais silencioso e institucional.
Conclave rápido confirma consenso entre cardeais
A eleição de Leão XIV ocorreu ainda no segundo dia do conclave, uma rapidez semelhante às escolhas anteriores de Bento XVI, em 2005, e de Francisco, em 2013. Apesar do número maior de cardeais votantes — 133 no total, contra 117 no conclave anterior — a escolha rápida demonstra um consenso significativo entre os eleitores da Igreja quanto à direção desejada para o futuro da instituição.
O processo foi antecedido por duas votações inconclusivas, com fumaça preta sendo emitida na noite de quarta-feira (7) e na manhã de quinta. Horas depois, a fumaça branca confirmou o fim do impasse, seguida pela espera tradicional até o anúncio oficial do nome escolhido e a aparição pública do novo papa.
Desafios à frente: queda de fiéis e necessidade de renovação
Leão XIV assume o comando da Igreja Católica em um cenário de desafios importantes. Apesar de ainda contar com mais de 1,3 bilhão de fiéis no mundo, a Igreja enfrenta uma perda gradual de seguidores, especialmente na Europa e na América Latina. A renovação do clero, a questão dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja e a necessidade de inclusão de mulheres em papéis de maior protagonismo seguem sendo temas sensíveis que exigirão habilidade política e espiritual.
Além disso, a alta popularidade de Francisco — mesmo em seus últimos anos de vida, marcados por problemas de saúde — coloca pressão sobre seu sucessor. O carisma e a capacidade de comunicação direta com os fiéis foram marcas registradas de seu papado, o que torna a missão de Leão XIV ainda mais delicada.
A escolha do nome e o simbolismo do novo papado
Ao adotar o nome de Leão XIV, Prevost se conecta com uma linhagem de papas com forte papel institucional e de fortalecimento da autoridade da Igreja, como Leão XIII, que teve grande influência social e doutrinária no século XIX. O número XIV, inédito até então, marca também o início de um novo capítulo dentro da história da Igreja Católica.
Ainda não se sabe se Leão XIV promoverá mudanças imediatas ou se dará continuidade plena às diretrizes estabelecidas por seu antecessor. O que se pode esperar, ao menos a partir do discurso inaugural, é um papado voltado à escuta, à conciliação e à presença junto aos mais vulneráveis — valores que ecoam com a atual busca da Igreja por relevância e renovação.
