30.3 C
Manaus
sábado, 3 maio, 2025
InícioBrasil'Onça-pintada é símbolo de esperança': cientista brasileira vence o 'Oscar Verde'

‘Onça-pintada é símbolo de esperança’: cientista brasileira vence o ‘Oscar Verde’

Date:

A bióloga brasileira Yara Barros foi homenageada com o prestigiado Whitley Award, conhecido como o “Oscar Verde”, em cerimônia realizada na noite desta quarta-feira (30) em Londres. O reconhecimento internacional celebra os mais de 30 anos de dedicação da cientista à conservação da fauna brasileira, especialmente da onça-pintada, o maior felino das Américas, cuja população está criticamente ameaçada na Mata Atlântica.

Coordenadora-executiva do Projeto Onças do Iguaçu (POI), Yara foi escolhida entre mais de uma centena de candidatos de vários países e é uma das seis vencedoras do prêmio promovido pelo Whitley Fund for Nature. Cada vencedor recebe £50 mil (cerca de R$ 380 mil) para investir em seus projetos ao longo de um ano.

“É um sonho realizado, o reconhecimento do trabalho de uma vida inteira”, afirmou Yara. Ela pretende aplicar os recursos do prêmio na ampliação do monitoramento, na proteção das onças e em iniciativas de coexistência entre humanos e grandes felinos.

Preservar para coexistir

Desde que assumiu o comando do POI, em 2018, Yara tem liderado ações que resultaram na duplicação da população de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu — de 11 para 25 indivíduos — e contribuíram para o crescimento de 40 para 93 animais em toda a área do Corredor Verde, que conecta as florestas remanescentes na fronteira entre Brasil e Argentina.

As ações são desenvolvidas em parceria com o Instituto Pró-Carnívoros, WWF Brasil, ICMBio e organizações argentinas, com atuação direta em dez municípios vizinhos ao parque, que somam cerca de 500 mil habitantes. Um dos focos do projeto é promover uma convivência pacífica entre pessoas e predadores.

“Transformar medo em encantamento” é o lema do POI, que criou iniciativas como o “Crocheteiras da Onça”, programa que capacita mulheres artesãs e associa a geração de renda à conservação da fauna.

Uma rede pela vida na Tríplice Fronteira

Além do reconhecimento pelo Whitley Award, Yara Barros também foi escolhida como uma das vencedoras do prêmio WINGS 2025 Women of Discovery, nos Estados Unidos, que valoriza e financia cientistas mulheres em todo o mundo. A cerimônia será realizada em outubro.

O destaque internacional impulsiona um novo projeto ambicioso: a criação da Rede de Coexistência da Tríplice Fronteira, que será liderada pelo Projeto Onças do Iguaçu com o objetivo de articular ações entre Brasil, Argentina e Paraguai.

“A meta é promover a coexistência harmoniosa entre comunidades humanas e grandes felinos na região por meio de uma rede colaborativa de capacitação de produtores rurais, projetos de conservação e órgãos ambientais”, explica Yara.

Desafios na Mata Atlântica

Com apenas 24% da vegetação original ainda preservada no Brasil — grande parte em áreas privadas e fragmentadas —, a Mata Atlântica abriga hoje uma população estimada de apenas 300 onças-pintadas. Considerada uma espécie guarda-chuva, a conservação do felino beneficia todo o ecossistema, desde a flora até outras espécies animais.

Segundo Yara, “o futuro da onça-pintada na Mata Atlântica depende de alinharmos pesquisa, ações de monitoramento, engajamento social e estratégias de coexistência com políticas de repovoamento dos animais”.

A trajetória da cientista inclui ainda passagens como diretora técnica do Parque das Aves, presidente da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, e coordenadora do Projeto Ararinha-Azul. Atualmente, ela também dirige o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Grandes Felinos (2024-2029), ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Com uma equipe enxuta de seis pessoas e um orçamento anual de R$ 800 mil, o Projeto Onças do Iguaçu é hoje uma referência em conservação integrada, articulando ciência, educação ambiental, geração de renda e mobilização comunitária.

“É possível preservar grandes felinos e melhorar a vida das pessoas ao mesmo tempo. A onça-pintada pode ser um símbolo de esperança”, resume Yara.

spot_img
spot_img