Quando pensamos em tecnologia espacial, nomes como Estados Unidos, Rússia e China logo vêm à mente. Esses países são conhecidos por seus avanços em exploração espacial, missões tripuladas e constelações de satélites que orbitam a Terra.
Mas, e o Brasil? Será que o nosso país também tem presença no espaço? A resposta curta é: sim. O Brasil possui satélites em órbita, e não apenas isso, como também mantém parcerias estratégicas, desenvolve tecnologia própria e participa de iniciativas internacionais no setor aeroespacial.
Embora nossa atuação não seja tão robusta quanto a de potências espaciais, o Brasil tem presença relevante em órbita, com satélites voltados para monitoramento ambiental, comunicação, meteorologia e até defesa.
Vamos explicar quais satélites brasileiros estão em operação, como funciona o programa espacial brasileiro, quais são os principais desafios enfrentados e quais são os planos para o futuro. Afinal, entender como o país atua no espaço é essencial para compreender seu papel geopolítico e tecnológico no século 21.
A presença do Brasil no espaço: um panorama geral
Sim, o Brasil possui satélites em órbita, mas essa presença é bem mais modesta do que a de outras nações com programas espaciais mais consolidados. O programa espacial brasileiro começou oficialmente em 1961, com a criação do GTE (Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais), embrião do que viria a ser o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Ao longo das décadas, o Brasil lançou diversos satélites, alguns desenvolvidos nacionalmente, outros em parceria com países como a China. Atualmente, existem dezenas de satélites ativos com participação brasileira, sendo que muitos desses são voltados para observação da Terra, monitoramento ambiental e controle de desmatamento, especialmente na região amazônica.
Entre os principais satélites brasileiros em órbita, podemos destacar:
- Amazonia-1
- CBERS (Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres)
- SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas)
Esses satélites representam diferentes frentes de atuação: ambiental, civil e militar.
O Amazonia-1: orgulho da engenharia brasileira
O Amazonia-1 é o primeiro satélite totalmente desenvolvido, projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil. Lançado em 28 de fevereiro de 2021 a bordo de um foguete indiano PSLV-C51, o Amazonia-1 é voltado principalmente para a observação da região amazônica e o monitoramento de desmatamento ilegal.
Com uma resolução espacial de 60 metros e uma revisita de cinco dias, ele é capaz de gerar imagens de alta qualidade para diversas aplicações, como agricultura, gestão de recursos hídricos e análise de desastres naturais.
Este projeto, liderado pelo INPE, foi um marco na história do programa espacial brasileiro, pois consolidou a capacidade nacional de desenvolver tecnologia espacial de ponta. O Amazonia-1 também abre caminho para o desenvolvimento de uma constelação de satélites com foco em sensoriamento remoto.

CBERS: a parceria espacial Brasil-China
Outro grande destaque na atuação espacial brasileira é a série CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite). Essa cooperação entre o Brasil e a China teve início nos anos 1980 e já gerou vários lançamentos bem-sucedidos.
A missão do CBERS é fornecer imagens para monitoramento de uso e cobertura do solo, gestão de bacias hidrográficas, agricultura e desenvolvimento urbano. O programa é considerado uma das iniciativas de cooperação tecnológica mais bem-sucedidas entre países em desenvolvimento.
Os satélites da série CBERS são operados conjuntamente pelo INPE e pela CAST (Academia Chinesa de Tecnologia Espacial), com os dados sendo disponibilizados gratuitamente ao público, fortalecendo a transparência e a sustentabilidade ambiental.
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SGDC: tecnologia para comunicações e defesa
Lançado em 2017, o SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas) foi o primeiro satélite brasileiro com capacidade de comunicação segura para fins civis e militares. Ele foi desenvolvido com tecnologia da empresa francesa Thales Alenia Space e operado pela Telebras e pelo Ministério da Defesa.
O SGDC tem duas funções principais:
- Ampliar o acesso à internet banda larga em áreas remotas do Brasil, especialmente na região Norte.
- Garantir comunicações seguras para as Forças Armadas e o governo federal, protegendo informações sensíveis contra possíveis ataques cibernéticos ou espionagem.
Com ele, o Brasil passou a depender menos de infraestrutura internacional para suas comunicações estratégicas.

Quantos satélites o Brasil tem atualmente?
É difícil precisar um número exato, pois o Brasil participa de várias iniciativas que envolvem satélites compartilhados, projetos conjuntos ou plataformas multiusuário. Mas, de forma geral, o Brasil possui cerca de 15 satélites próprios ou com participação direta em operação, além de acesso a dezenas de outros via acordos internacionais.
Vale destacar que o Brasil também utiliza imagens de satélites estrangeiros, como os Landsat dos EUA ou os Sentinel da União Europeia, por meio de cooperação técnica, complementando os dados gerados internamente.
O papel do INPE e da AEB
Dois órgãos são essenciais para o funcionamento do programa espacial brasileiro:
- INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): responsável por pesquisa, desenvolvimento e operação de satélites voltados para sensoriamento remoto e meteorologia.
- AEB (Agência Espacial Brasileira): órgão regulador e coordenador da política espacial do país, subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
Ambas as instituições enfrentam desafios crônicos, como cortes de orçamento, fuga de cérebros e dependência tecnológica. Ainda assim, elas têm conseguido manter o Brasil ativo no cenário espacial global.
Sim, o Brasil possui satélites em órbita, e essa presença é resultado de décadas de trabalho, cooperação internacional e investimento em ciência e tecnologia. Embora ainda distante das grandes potências, o país tem demonstrado capacidade técnica e visão estratégica para expandir sua atuação espacial.
Através de projetos como o Amazonia-1, a parceria CBERS e o SGDC, o Brasil mostra que pode utilizar o espaço de forma inteligente e soberana, não apenas para fins científicos, mas também para proteger seus recursos naturais, garantir soberania de dados e promover inclusão digital.
O desafio agora é manter a continuidade, aumentar os investimentos e fomentar uma indústria nacional que transforme o conhecimento acumulado em resultados ainda mais impactantes para o Brasil e para o planeta.
Fonte: Olhar Digital