Em mais uma edição do chamado ‘Abril Vermelho’, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam dezenas de latifúndios, terras improdutivas e prédios públicos em diferentes partes do país. A mobilização acontece todos os anos no mês do massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, em que 21 camponeses foram mortos em 17 de abril de 1996.
Segundo o Movimento, já são 21 ações em dez estados do país. Quase metade das ocupações (dez) acontece em Pernambuco. Há ações em andamento também nos estados de Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Sergipe.
Com os atos, o MST pretende denunciar o modelo do agronegócio no Brasil, e reforçar a necessidade da Reforma Agrária, com fomento para a produção da agricultura familiar no país. Não estão descartadas outras ocupações até o próximo dia 17, segundo o movimento.
Os atos foram a senha para o bolsonarismo voltar a pressionar o governo federal. Na quarta-feira 9, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, será ouvido pela Comissão de Agricultura do Senado. O convite foi feito pelos senadores Zequinha Marinho (Podemos-PA), que se apresenta como defensor do agronegócio, e Marcos Rogério (PL-RO), uma das vozes mais destacadas da extrema-direita na Casa Alta.
No requerimento apresentado, Marcos Rogério diz que é “fundamental” saber as ações e procedimentos do ministério para “prevenir e combater ocupações ilegais que vêm se repetindo ano após ano e sendo tratadas como uma espécie de tradição por determinados grupos”, conforme relatado pela Agência Senado.
O massacre
Todos os anos, o MST realiza ocupações de e atos em memória das vítimas do massacre de Eldorado do Carajás. Além das 21 mortes, 79 trabalhadores sem terra sofreram ferimentos graves e mutilações em ataques da Polícia Militar.
As vítimas faziam parte de um grupo de cerca de 1.500 pessoas que participavam de um protesto. O grupo planejava marchar até Belém, em busca da desapropriação de uma fazenda então ocupada por 3.500 famílias sem terra.
A longa caminhada, de cerca de 900 quilômetros, iniciada em 10 de abril, foi interrompida sete dias depois pelo ataque dos policiais. As agressões duraram cerca de duas horas. Algumas das vítimas foram atacadas com seus próprios instrumentos de trabalho, como foices e facões. Apenas duas pessoas foram condenadas: dois comandantes das forças policiais à época.
Por:Carta Capital