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terça-feira, 27 maio, 2025
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Ministra Marina Silva abandona sessão no Senado após ataques machistas e confronto com base aliada

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A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou nesta segunda-feira (27) uma tensa sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal após ser alvo de ofensas de cunho machista e ataques diretos, inclusive por parte de senadores da base do governo Lula (PT). O episódio escancarou as tensões entre o Ministério do Meio Ambiente e parlamentares com interesses na exploração econômica da região amazônica, especialmente da costa marítima.

A discussão, que durou cerca de três horas, tinha como foco a criação de novas unidades de preservação marinha na costa dos estados amazônicos, medida criticada por senadores como Lucas Barreto (PSD-AP) e Omar Aziz (PSD-AM). Ambos integram partidos aliados ao governo federal, mas expressaram forte oposição à proposta do ministério.

Clima de hostilidade e microfone cortado

O clima da sessão rapidamente saiu do controle. Durante sua fala, a ministra foi interrompida diversas vezes pelo presidente da comissão, o senador Marcos Rogério (PL-RO), que cortou o microfone de Marina em diversas ocasiões. “Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo e…”, ironizou Rogério, insinuando falta de decoro. Marina respondeu: “Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou”.

A declaração gerou protestos de outros senadores, e o ambiente ficou ainda mais acalorado quando o senador Marcos Rogério declarou: “Se ponha no seu lugar, ministra”. A fala, tida como desrespeitosa e machista, foi o estopim para uma série de manifestações indignadas. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), uma das poucas mulheres presentes, tomou a palavra: “O comportamento do presidente da comissão é absurdo e desrespeitoso”.

Plínio Valério e o limite da violência verbal

Mas o momento mais tenso ocorreu quando o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que já responde a processo no Conselho de Ética por declarações anteriores contra a ministra, afirmou que ela “não merecia respeito”. “Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher”, disse. Marina retrucou: “Eu sou as duas coisas”. Plínio insistiu: “A mulher merece respeito, a ministra, não”.

Após a troca, Marina afirmou: “Ou ele me pede desculpas, ou eu vou me retirar”. Sem recuo por parte do senador, ela recolheu seus documentos e deixou a sessão, que foi encerrada logo em seguida.

Conflito dentro da base governista

O episódio revelou fraturas dentro da própria base do governo Lula. Senadores como Lucas Barreto e Omar Aziz demonstraram resistência às medidas de proteção ambiental defendidas por Marina. A região costeira dos estados do Amapá e Amazonas é alvo de interesses econômicos relacionados à pesca industrial e, principalmente, à exploração de petróleo e gás.

Lucas Barreto chegou a questionar a viabilidade econômica da criação das unidades de conservação marinha: “O governo precisa entender que nós temos o direito de explorar nossos recursos com responsabilidade”. Já Omar Aziz acusou o ministério de agir sem diálogo com os estados: “Parece que a Amazônia virou laboratório de Brasília”.

Apoio feminino e denúncias de sexismo

A senadora Eliziane Gama e outras parlamentares repudiaram publicamente as atitudes de Plínio Valério e Marcos Rogério. “Não se trata de discordância política, mas de falta de respeito institucional e pessoal com uma mulher e ministra da República”, declarou Eliziane.

Nas redes sociais, a hashtag #RespeitaMarina subiu rapidamente entre os assuntos mais comentados. Diversas lideranças políticas, organizações ambientais e movimentos feministas manifestaram solidariedade à ministra.

Histórico de ataques e resistência

Não é a primeira vez que Marina Silva se vê em confronto direto com parlamentares. Com longa trajetória no ativismo ambiental e histórico de independência política, Marina já foi alvo de críticas de ruralistas e setores ligados ao agronegócio. Contudo, o tom violento e misógino dos ataques desta segunda-feira chamou a atenção até mesmo de adversários históricos da ex-senadora.

A ministra não se pronunciou formalmente após o episódio, mas aliados próximos disseram que ela não pretende recuar do projeto. A avaliação é de que a reação hostil por parte dos parlamentares reforça a necessidade de um debate mais transparente sobre os interesses econômicos em jogo.

Repercussão no Planalto

Integrantes do Palácio do Planalto classificaram a cena como “lamentável” e “inaceitável”, mas evitam comentar publicamente os embates entre ministros e a base no Congresso. Nos bastidores, assessores avaliam que o confronto fragiliza a articulação política do governo, sobretudo em temas considerados sensíveis como os ambientais.

Enquanto isso, o Ministério do Meio Ambiente estuda reforçar sua base técnica para justificar a criação das novas áreas protegidas e pretende ampliar o diálogo com os estados diretamente impactados.

Próximos passos

O Senado ainda não definiu nova data para retomada da discussão sobre o projeto. Parlamentares da oposição já sinalizaram que pretendem barrar qualquer avanço das medidas sem uma ampla negociação. Grupos ambientalistas, por outro lado, prometem intensificar a pressão pública em apoio às ações da ministra.

A expectativa é que Marina Silva compareça novamente ao Congresso nas próximas semanas, mas sob outro formato de audiência, desta vez com garantias mínimas de respeito institucional.

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