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quinta-feira, 24 abril, 2025
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Lula e comitiva brasileira embarcam nesta quinta para o funeral do papa Francisco

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A comitiva oficial do governo brasileiro para o enterro do papa Francisco deve embarcar nesta quinta-feira (24) às 22h, horário de Brasília. Se, no sepultamento de João Paulo II, o presidente Lula convidou ex-presidentes da República para acompanhá-lo a Roma, desta vez os convites foram dirigidos aos demais chefes dos poderes da República: Hugo Mota, da Câmara, Davi Alcolumbre, do Senado, e Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal – uma amostra de que as articulações políticas são prioridade.

O Palácio do Planalto informou que os três indicaram que iriam aceitar o convite. A assessoria da Presidência não informou se outras autoridades foram convidadas. A primeira-dama Janja Lula da Silva também irá ao funeral.

Para além da necessidade de o governo manter pontes com o Congresso, o fato de a religião ser parte importante da cultura nacional e a própria personalidade do papa Francisco, que conquistou admiradores além dos círculos católicos, explicam essa mobilização de Brasília em torno da figura papal. “Essa presença ostensiva de pessoas no sepultamento do papa Francisco não deixa de ser uma tentativa de ganho político, uma sinalização para o universo católico, que ainda é majoritário no Brasil, apesar de não ter o poder que teve durante 450 anos”, aponta o professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC/Minas Robson Sávio Reis Souza.

“O papa Francisco se tornou uma liderança reconhecida não só pelo catolicismo, mas por grupos evangélicos mais progressistas, por exemplo. Também podemos citar as pessoas que se dizem sem religião, mas prezam por princípios religiosos. Esse segmento hoje no Brasil representa mais de 20 milhões de pessoas”, complementa Souza.

O corpo do pontífice será encaminhado da capela da Casa de Santa Marta para a Basílica de São Pedro nesta quarta-feira (23) e o funeral no local está agendado para o sábado (26).

Robson Sávio Reis Souza lembra que, mesmo tendo posições firmes em várias situações da conjuntura mundial, o pontífice, em sua morte, recebeu condolências dos mais variados líderes políticos mundo afora. “Do ponto de vista da inserção na geopolítica internacional, a participação no seu velório passa a ser algo importante para quaisquer chefes de governo e de Estado”, constata.

Impacto de Francisco na Igreja Católica

Na visão de Flávio Sofiati, professor de Sociologia na Universidade Federal de Goiás e coordenador do Núcleo de Estudos de Religião Carlos Rodrigues Brandão, as opiniões e programas defendidos pelo papa argentino não tiveram tanta ressonância interna na Igreja Católica, especialmente nos seus dirigentes, tampouco conseguiram ampliar fiéis ou impedir o crescimento das igrejas evangélicas. Mesmo assim, foram cruciais num mundo marcado por fenômenos extremos políticos e ambientais.

“O modelo de papado de Francisco foi muito importante para a sociedade global como um todo. Ele foi uma liderança respeitada que confrontou os poderes estabelecidos do mundo, se opôs a guerras, como a de Israel contra a Palestina, convocou jovens a pensar outra forma de se relacionar com a economia, articulando justiça social e preocupação ambiental, se colocando contra poderes autoritários diante de um cenário de crescimento de posturas antidemocráticas”, analisa.

“Mesmo aqueles líderes que estão hoje no campo da extrema direita, ou aqueles que utilizam e até manipulam a própria religião com outros interesses, não querem perder a oportunidade, pelo menos nesse momento do sepultamento, de dar uma sinalização de respeito às religiões”, disse o pesquisador da PUC/Minas.

Sofiati avalia que, dentro da Igreja, a postura de Francisco mobilizou mais as rebarbas administrativas, como as paróquias, e cultivou resultados parecidos aos de papas anteriores no objetivo de frear a desidratação da influência católica no mundo. “Para a sociedade, o papa Francisco foi fundamental e fará falta. Porém, para a Igreja, não surtiu efeito essa postura mais social e voltada para fora. Nesse ponto, o efeito dele foi similar ao de João Paulo 2° e Bento 16”, explica.

Rituais do conclave fascinam

Rituais ancestrais, cheios de simbolismo, reuniões secretas e a famosa fumaça para indicar a escolha do novo papa são elementos que atraem o público para a eleição do chefe da Igreja Católica, que teve em Francisco o primeiro líder vindo das Américas. A instituição é maior nas Américas e forte na África, mas a maioria dos cardeais que participam do conclave ainda é da Europa.

“Grande parte desses cardeais está muito desconectado dos interesses da base católica, sobretudo na América Latina. É muito pouco provável que o próximo papa seja um Francisco 2°”, aposta Sofiati. “A tendência é pela escolha de alguém de perfil moderado para conservador. Mas isso só vamos saber depois, porque é tudo meio achismo”, reconhece.

“O que se sabe é que os italianos estão muito mobilizados para retomar o trono de Pedro. E você tem uma predisposição do governo norte-americano, de Donald Trump, de colaborar com a influência do clero norte-americano no conclave”, complementa o professor da UFG.

Com informações da Agência Brasil



Por:Carta Capital

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