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Jurado pelo PCC delatou policiais e se comprometeu a pagar R$ 15 milhões de multa

Na lista de policiais a serem delatados pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, morto na última sexta (8) no aeroporto internacional em Guarulhos (SP), estavam ao menos um delegado e dois investigadores da Polícia Civil de São Paulo.

Os nomes desses policiais estão em documentos encaminhados pela defesa de Gritzbach ao Ministério Público durante negociações para o acordo de delação premiada, que acabou firmado neste ano.

Na lista, conforme documentos obtidos reportagem, o empresário se comprometeu a apresentar áudios que comprovariam “ilicitudes e arbitrariedades” do delegado Fábio Baena e de “toda sua equipe”, como “Rogerinho, Eduardo Monteiro e outros”. A informação está em um item discriminado pelos advogados do delator como “Corrupção Policial”.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública não informou a situação desses policiais até a conclusão desta reportagem. Em nota, disse ter sido aberta uma força-tarefa para apurar o crime.

Durante entrevista na tarde desta segunda (11), o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, confirmou que policiais civis foram delatados por Gritzbach e, tão logo a polícia tomou ciência do fato, convocou o colaborador para tomar depoimento dele.

Segundo Derrite, a menção aos policiais foi feita em 31 de outubro, última vez em que o empresário foi ouvido pelo Ministério Público. “Tudo isso será analisado”, declarou o secretário.

Entre as linhas de investigação da Polícia Civil para a morte do empresário na ação de Guarulhos está uma ação de criminosos ligados ao PCC, cujos integrantes haviam jurado o delator de morte, e também a participação de policiais paulistas, implicados em delações.

A reportagem não teve acesso ao teor da delação, que está em segredo de Justiça, mas é certo que policiais foram mencionados já que no documento de homologação de acordo a Promotoria indica que as declarações do colaborador levantavam suspeitas contra policiais de três unidades da Polícia Civil.

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach

O documento cita policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa), na zona sul da capital paulista. “Cujas condutas apuradas configuram, em tese, os crimes dos artigos 316 do Código Penal (concussão), artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva), artigo 288 do Código Penal (associação criminosa), dentre outros”, diz trecho de documento da Promotoria.

Conforme a reportagem apurou, Fábio Baena e equipe teriam sido responsáveis pela investigação da morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, assassinado em dezembro de 2021. Gritzbach era o principal suspeito de mando. O colaborador assassinado negava a participação nesses casos.

A forma como a investigação foi conduzida, ainda conforme apuração da Folha de S.Paulo, teria desagradado a integrantes da cúpula da polícia, o que levou à transferência de toda a equipe de Baena do DHPP. Na época, não havia ainda a expectativa da delação do empresário.

Em uma parte da proposta de delação, à qual a reportagem teve acesso, Gritzbach diz que conhecia Rafael Maeda Pires, vulgo Japa, que teria participado do descarte do corpo de Django, Claudio Marcos de Almeida, assassinado em guerra interna do PCC.

Maeda seria vendedor de carros e agenciava atletas de futebol. O vendedor fazia repasses “irregulares para Anselmo”, segundo o delator, e teria participado do sequestro do próprio Gritzbach. O colaborador disse ainda, conforme documentos, que estava “no local de desova do corpo de Django” e “foi forçado pela polícia para não reconhecê-lo nas imagens”, diz trecho de documento.

A morte de Django ainda não foi esclarecida pela polícia.

O próprio Maeda também teria morrido de “forma suspeita no prédio de Ademir Pereira de Andrade”. Pires foi encontrado morto dentro de um carro blindado, no subsolo de um edifício comercial no Tatuapé.

No mesmo documento de tratativas de colaboração premiada, os advogados de Gritzbach afirmam que Ahmed Hassan, vulgo Mudi, ligado ao PCC, teria oferecido R$ 3 milhões pela cabeça do delator.

No documento de negociação com o Ministério Público, o empresário admitiu participação em esquema de lavagem de dinheiro para criminosos e se comprometia a pagamento de R$ 15 milhões à Fazenda Pública, a título de prestação pecuniária e multa penal, valor a ser pago em 12 meses.

Procurada, a defesa de Gritzbach não atendeu aos telefonemas e não retornou aos recados deixados. A reportagem também tentou contato com os policiais citados no documento, mas não conseguiu localizá-los até a publicação.

A Secretaria da Segurança Pública disse, em nota, que foi montada uma força-tarefa entre as forças de segurança para investigar o crime. “Testemunhas e partes envolvidas já prestaram depoimento, e os policiais militares que faziam a segurança de uma das vítimas foram afastados de suas atividades operacionais até o fim das investigações”, diz trecho da nota.

As corregedorias das polícias Civil e Militar acompanham as investigações para que todas as medidas pertinentes sejam adotadas, se necessário, reiterando o compromisso e respeito às leis, à transparência e à imparcialidade.

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