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Governo do Pará é alvo de críticas por árvores artificiais

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Árvore artificial instalada no Parque Linear Nova Doca, em Belém, como parte das obras para a COP30 (Ascom/Seop)

29 de março de 2025

Fabyo Cruz – Da Cenarium

BELÉM (PA) – Lideranças políticas, populações tradicionais e especialistas em meio ambiente criticaram o Governo do Pará após o anúncio da instalação de árvores artificiais no Parque Linear Nova Doca, em Belém, como parte das obras para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro deste ano na capital paraense. Eles apontam a falta de diálogo com comunidades locais e soluções que priorizem a vegetação nativa.

A vereadora Vivi Reis (Psol), que atua na Câmara Municipal de Belém (CMB), utilizou as redes sociais para manifestar sua insatisfação com a ação do governo. Para a parlamentar, a construção das árvores artificiais na Doca e na Avenida Tamandaré revela a “artificialidade” do governador Helder Barbalho (MDB) em relação às questões ambientais. “Fora, faz belos discursos, mas aqui destrói a floresta, mostrando que seu compromisso com a Amazônia não passa de fake news”, declarou.

O coletivo “COP do Povo”, composto por lideranças de comunidades tradicionais que organizam ações paralelas à COP30, também emitiu uma nota pública de repúdio. Para o grupo, a escolha de estruturas artificiais em plena Amazônia evidencia um “preocupante grau de desconexão com a realidade amazônica” e uma afronta a marcos globais de proteção ambiental, como o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O coletivo questiona a falta de transparência nos gastos da obra e critica a ausência de diálogo com as comunidades locais. “O simbolismo de implantar árvores artificiais em uma das regiões mais biodiversas do planeta escancara não só o desprezo pelo conhecimento tradicional e científico sobre o bioma amazônico, mas também a falta de escuta e diálogo com as comunidades locais, ribeirinhas e os povos originários”, diz a nota.

Impactos ambientais

À CENARIUM, a bióloga Vânia Neu, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), comentou sobre a escolha das árvores artificiais. Ela explica que as estruturas de vergalhões não substituem as funções das árvores naturais, como a preservação de matas ciliares.

A especialista também destacou que, diante do grande investimento, seria mais adequado apostar em soluções que aumentassem as áreas verdes da cidade, utilizassem pisos permeáveis e abordassem questões estruturais, como a falta de saneamento básico.

“Essas estruturas, na verdade, são suportes com vergalhões onde serão penduradas plantas em vasos. Isso apresenta diversos problemas. Primeiramente, essas estruturas não substituem as árvores nem desempenham suas funções, como as de mata ciliar, que deveria existir nas margens dos rios. Além disso, essas plantas em vasos precisarão ser irrigadas nos períodos de seca. Existe uma estrutura para irrigação? Caso não haja, elas secarão e morrerão, pois vasos pequenos, como os propostos, não retêm água por muito tempo”, explicou.

Vânia Neu, bióloga e professora da Ufra (Sérgio Moraes/Fundação Guamá)

“Para a COP, deveriam ter sido pensadas soluções que trouxessem mais áreas verdes para a cidade, mais pisos permeáveis e, de modo algum, promovido o desmatamento. As obras deveriam ter como foco resolver a falta de saneamento básico e a escassez de árvores na cidade”, concluiu.

Argumentos do governo

Na divulgação da implantação das árvores artificiais, a Secretaria de Obras Públicas do Pará (Seop) argumentou que as “eco-árvores” são compostas por vergalhões reaproveitados e plantas trepadeiras, promovendo sombreamento em locais onde árvores naturais não poderiam ser plantadas devido à falta de solo adequado.

“No meio da paisagem da Nova Doca uma estrutura chama a atenção. São conjuntos de árvores com copas frondosas, repletas de folhas verdes que, assim como qualquer outro vegetal, fornecem sombra e conforto para quem passa pela área – só tem uma diferença: essas árvores são artificiais”, diz o governo no site da Seop.

De acordo com a Seop, haverá 88 “eco-árvores” no Parque Linear Nova Doca (Divulgação/Agência Pará)

A pasta destacou que a escolha das árvores artificiais foi inspirada em estruturas semelhantes encontradas em Cingapura, conhecidas por promover sombra e conforto térmico em áreas urbanas densas. “O objetivo foi reduzir as ilhas de calor em Belém. O perfil viário da Doca não dispõe de espaço para plantio de árvores de médio e grande porte”, informou a Seop.

De acordo com a Secretaria de Obras Públicas do Pará, serão instaladas ao todo 88 eco-árvores no Parque Linear Nova Doca e 100 no Parque Linear Nova Tamandaré. A expectativa do governo é que as estruturas ajudem a amenizar o calor durante o evento e sirvam como elemento paisagístico para a população.

Leia também: Deputada denuncia despejo de esgoto da COP30 em comunidade periférica de Belém





Fonte: Agência Cenarium

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