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segunda-feira, 7 abril, 2025
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E o Oscar da Ciência vai para… uma revolução na Medicina!

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Dois cientistas que dedicaram décadas à pesquisa sobre esclerose múltipla (EM) foram reconhecidos com o Breakthrough Prize, considerado o “Oscar da ciência“. O neurologista americano Stephen Hauser e o epidemiologista italiano Alberto Ascherio foram premiados por descobertas que abriram novos caminhos no tratamento da doença neurológica, que afeta cerca de três milhões de pessoas no mundo.

A esclerose múltipla, considerada durante muito tempo um enigma impenetrável pela medicina, é uma doença neurodegenerativa debilitante que compromete o sistema nervoso central. Os sintomas incluem prejuízos motores e cognitivos, podendo levar à paralisia. O reconhecimento da comunidade científica veio após avanços significativos obtidos pelos dois pesquisadores ao longo de suas carreiras.

esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença degenerativa que afeta o sistema nervoso central (Imagem: Pixel-Shot / Shutterstock.com)

Um encontro marcante e o início de uma jornada

Hauser iniciou seus estudos sobre esclerose múltipla há mais de 45 anos, depois de conhecer uma jovem paciente chamada Andrea, que trabalhava na Casa Branca durante o governo de Jimmy Carter. Aos 27 anos, ele presenciou a rápida deterioração da saúde de Andrea, que em pouco tempo perdeu a capacidade de falar, engolir e até respirar sozinha.

“Foi a coisa mais injusta que já vi na medicina”, relatou o pesquisador à AFP. A experiência o levou a transformar a esclerose múltipla em missão de vida, mesmo em um cenário de ceticismo generalizado. “Na época, não havia tratamentos. E nem se acreditava que algum dia pudessem ser desenvolvidos”, afirmou.

A descoberta do papel dos linfócitos B

  • Durante muito tempo, acreditava-se que apenas os linfócitos T estavam envolvidos na destruição das células nervosas.
  • Hauser questionou essa visão e passou a investigar o papel dos linfócitos B, outro tipo de célula branca do sangue, no desenvolvimento da doença.
  • Por meio de testes em saguis, pequenos primatas, ele e sua equipe conseguiram replicar os danos neurológicos provocados pela EM.
  • O projeto, inicialmente rejeitado por autoridades de pesquisa médica dos Estados Unidos por ser considerado “biologicamente implausível”, encontrou apoio na farmacêutica Genentech.
  • Em 2006, os testes clínicos mostraram resultados expressivos: os tratamentos que miravam os linfócitos B reduziram em mais de 90% a inflamação cerebral em pacientes com esclerose múltipla.
  • O achado foi descrito por Hauser como algo “nunca antes visto” em termos de impacto terapêutico.

Um possível elo viral com a esclerose múltipla

Enquanto Hauser avançava na busca por tratamentos, Alberto Ascherio concentrava-se em entender as causas da doença. Professor da Universidade de Harvard, ele se intrigava com a distribuição geográfica da EM, mais comum em regiões do hemisfério norte e rara em áreas tropicais.

Essa observação levou à hipótese de que um vírus poderia estar envolvido. Ascherio e sua equipe realizaram um estudo de longo prazo com milhões de recrutas militares dos EUA, ao longo de quase 20 anos. Em 2022, confirmaram a associação entre a esclerose múltipla e o vírus Epstein-Barr (EBV), agente causador da mononucleose infecciosa.

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O vírus Epstein-Barr está associado à esclerose múltipla (Imagem: Kateryna Kon / Shutterstock.com)

“Quase todos os pacientes com esclerose múltipla tiveram infecção prévia por EBV”, disse Ascherio. Apesar disso, ele enfatiza que nem todos os infectados desenvolverão a doença. A descoberta não é conclusiva sobre as causas, mas abre caminho para futuras estratégias de prevenção e tratamento.

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Novas possibilidades para outras doenças

A descoberta do vínculo com o vírus Epstein-Barr também levanta hipóteses para outras condições neurológicas. “Estamos investigando o papel de infecções virais em outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e a esclerose lateral amiotrófica (ELA)”, revelou Ascherio.

Embora o elo ainda seja teórico, o pesquisador acredita que o cenário atual se assemelha ao que era o conhecimento sobre EM há 20 ou 30 anos. A premiação no Breakthrough Prize reconhece não apenas conquistas passadas, mas também o potencial futuro das pesquisas lideradas por Hauser e Ascherio.




Fonte: Olhar Digital

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