Utilizar sons ou música para conquistar um parceiro não é uma característica exclusiva dos seres humanos. Apesar de não ter sentido emocional, mas sim o objetivo de levar ao acasalamento e perpetuação da espécie, diversos animais utilizam desse artifício na hora de flertar, emitindo sons.
É o caso de sapos, pássaros e baleias, por exemplo, que são os mais conhecidos por dominarem o canto para a conquista.
Entretanto, os pesquisadores acabaram descobrindo que existe outra espécie que aposta na serenata para conquistar uma fêmea: o caranguejo-violinista (Afruca tangeri). Seu nome pode sugerir que os sons emitidos por esses animais já eram conhecidos, mas o apelido vem, na verdade, da forma pelo qual os crustáceos balançam suas garras como forma de comunicação.
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Contudo, uma nova pesquisa registrou pela primeira vez os sinais vibratórios que os machos fazem durante o cortejo, e os resultados foram publicados no Journal of Experimental Biology. Veja abaixo mais informações.

A música produzida pelo caranguejo-violinista é feita a partir de uma mistura de tamborilar o solo com sua garra, ou quando ele bate o casco no chão.
Entretanto, até a pesquisa divulgada, não havia ficado claro o quanto esses sinais eram capazes de transmitir informações de forma eficaz nas regiões intertidais (que são as faixas de costa entre as marés alta e baixa), onde esses caranguejos vivem, e que naturalmente são caóticas no que diz respeito aos sons, sendo altamente competitivas nesse contexto.
Ao se questionarem sobre a eficiência dos sons, o time de pesquisadores do Laboratório de Vibração Animal da Universidade de Oxford decidiu analisar e gravar caranguejos-violinistas da Península Ibérica. Os vídeos foram feitos usando geofones, que registraram com precisão as vibrações.
Então, a equipe acompanhou uma rotina repetitiva de cortejo que se dividia em quatro etapas: primeiro, os animais acenavam suas garras. Depois, faziam acenos sequenciais e quedas de corpo para produzir um sinal vibratório.

Então, faziam movimentos simultâneos até que, finalmente, exibiam tambores subterrâneos caso a fêmea se aproximasse da toca. A cada passo, a energia sísmica que foi registrada pelos geofones se intensificou.
Os pesquisadores perceberam que as variações no ritmo, a duração e o volume das vibrações permitiam distinguir diferentes comportamentos de acasalamento dos caranguejos. Com essas informações, treinaram um programa de IA capaz de identificar esses comportamentos com até 70% de precisão, o que abriu caminho para o uso de vibrações no monitoramento remoto de animais.
Após mais de 8 mil análises de gravações, os cientistas chegaram a conclusão que, quanto maior o macho, mais intensos eram os sinais sísmicos, com picos de percussão de maior amplitude. O alcance do som até locais distantes impedia que os machos fossem desonestos com relação ao seu tamanho, o que permitiu que as fêmeas avaliassem, à distância, a qualidade e o tamanho das garras.
Tom Mulder, autor do estudo e membro do departamento de Biologia da Universidade de Oxford, comentou em um comunicado que “os machos não conseguem, ou não mentem, sobre seu tamanho físico. As fêmeas podem confiar na intensidade dos sinais sísmicos para avaliar honestamente a qualidade de um parceiro em potencial, tudo isso sem precisar vê-lo.”
Também em comunicado, Beth Mortimer, também autora do estudo, disse que as garras maiores possuem vantagens ao superar o ruído sísmico e permitir a sinalização para fêmeas mais distantes.
Por morarem em habitats barulhentos, esse tipo de comunicação sísmica percussiva em vez de uma vocal é vantajosa para os caranguejos-violinistas. Apesar de ser simples, o ajuste da intensidade e a repetição dos sinais é eficaz para que os pequenos animais se comuniquem nesses locais ruidosos.
Entretanto, Mortimer faz uma observação a respeito dos animais menores “as vantagens são observadas apenas em sinais de percussão, como tamborilar, e, felizmente, para caranguejos com garras menores, estes são apenas parte da rotina de cortejo.”

Fonte: Olhar Digital