Hugo Garbe é professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Na área econômica, sob a administração Biden, vimos uma política comercial mais aberta e menos protecionista, o que favoreceu o comércio internacional. Se Kamala Harris seguir essa linha, é provável que o Brasil continue a ter boas oportunidades de exportação, com menos barreiras comerciais. Por outro lado, se Trump voltar ao poder, há um risco de retorno às políticas protecionistas, com tarifas mais altas que poderiam dificultar nossas exportações.
Em relação aos acordos comerciais, ainda não sabemos exatamente qual será a postura de Harris. Se ela continuar com a tendência de Biden de fortalecer acordos multilaterais, isso pode abrir novas portas para o Brasil no comércio internacional. No entanto, uma vitória de Trump pode trazer incertezas ao mercado global, afetando a confiança dos investidores e, consequentemente, a economia brasileira.
Falando em investimentos, a estabilidade política e econômica prometida por Harris pode atrair mais investidores estrangeiros para o Brasil. Investidores buscam mercados emergentes com potencial de crescimento e um ambiente político estável é crucial para isso. Por outro lado, a volatilidade que poderia vir com um novo governo Trump, conhecido por suas políticas imprevisíveis, pode desestimular esses investimentos.
Um ponto importante para o Brasil é o agronegócio e as políticas ambientais. A administração Biden tem sido rigorosa com tais questões e Harris provavelmente seguirá essa linha. Isso pode aumentar a pressão sobre o Brasil para adotar práticas agrícolas mais sustentáveis. Já Trump, com sua abordagem mais permissiva em relação à regulação ambiental, poderia aliviar essa pressão, mas ao custo de aumentar as críticas internacionais sobre nossas políticas ambientais.
No campo político, as relações diplomáticas também merecem observações. Com Biden, as relações entre Brasil e EUA foram relativamente estáveis, apesar de algumas divergências. Harris deve manter essa abordagem, buscando cooperação e diálogo. Trump, por outro lado, teve uma relação mais ambígua com o Brasil, apoiando algumas políticas do governo brasileiro, mas também impondo barreiras comerciais e críticas pontuais. Sua volta ao poder poderia trazer uma dinâmica mais complexa e imprevisível.
Outro aspecto é a política climática, que Harris deve continuar a combater com a mesma postura forte de Biden, o que pode aumentar a pressão sobre o Brasil para controlar o desmatamento e proteger a Amazônia. Já Trump, que tende a minimizar a questão climática, poderia aliviar essas imposições, mas prejudicar a imagem do Brasil em fóruns globais.
A cooperação em segurança e defesa pode variar significativamente. Harris pode buscar um equilíbrio, promovendo a colaboração em áreas como combate ao narcotráfico e terrorismo. Trump, por outro lado, poderia adotar uma abordagem mais unilateral, focando nos interesses americanos e possivelmente reduzindo a acordos bilaterais.
A posição dos EUA em relação à China também é crucial para o Brasil. Com Harris, a política externa pode ser mais estável e previsível, permitindo ao Brasil manter boas relações tanto com os norte-americanos quanto com os chineses. Com Trump, a confrontação pode se intensificar, forçando o Brasil a tomar decisões difíceis sobre suas alianças internacionais.
A desistência de Joe Biden e a candidatura de Kamala Harris contra Donald Trump trazem um cenário de incertezas e oportunidades para o Brasil. É essencial que o país monitore de perto as eleições americanas e prepare estratégias para mitigar riscos e aproveitar as oportunidades, independentemente do resultado.
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