Na tenda da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), no coração do Acampamento Terra Livre (ATL) 2025, a tecnologia se aliou ao saber ancestral para fortalecer ações de monitoramento de territórios indígenas na área de influência da BR-319. Membro da gerência de monitoramento territorial da Coiab, Thiago Castelano, do povo Parintintin, apresentou o Mapa Interativo do Observatório BR-319 — uma ferramenta digital que reúne informações socioambientais sobre as 69 Terras Indígenas, 42 Unidades de Conservação e 13 municípios da rodovia.
A plataforma, desenvolvida pelo Observatório BR-319, oferece uma visualização ampla e acessível de dados sobre desmatamento, focos de calor, ramais, degradação ambiental, projetos de infraestrutura relacionados à BR-319 e muito mais, além da localização de comunidades e Terras Indígenas. O mapa pode ser acessado on-line e já vem sendo utilizado por lideranças e organizações como instrumento para articulação e defesa territorial.
“Esse mapa é uma ferramenta construída a partir da nossa vivência, do nosso território. Não é só um desenho no computador — é uma forma de mostrar que estamos atentos, que não vamos permitir que passem por cima de nós em nome do ‘desenvolvimento’”, disse Thiago Castelano, durante a apresentação na tenda da Coiab.
Diversos povos da área de influência da rodovia marcaram presença no ATL 2025. Mura, Apurinã, Paumari, Jiahui, Tenharim, Parintintin e tantos outros levaram para o evento pautas sobre a intensificação das invasões, a presença de grileiros, garimpeiros e madeireiros em suas terras, além do aumento da violência contra lideranças que defendem seus territórios. Muitos desses povos vivem em áreas estratégicas para a conservação da Amazônia e já convivem com os efeitos da pressão de projetos de infraestrutura no Interflúvio Madeira-Purus.
Esta 21ª edição do Acampamento Terra Livre — a maior mobilização indígena do Brasil — teve início com uma declaração histórica de aliança entre os povos indígenas da Amazônia, do Pacífico e da Austrália. A tenda da Coiab, com o tema “Pelo Clima e Pela Amazônia: A Resposta Somos Nós”, se tornou um espaço de articulação internacional em torno da COP30, que acontecerá em Belém (PA). Os povos originários cobraram voz e poder de decisão real nas negociações climáticas e denunciaram a lentidão dos governos diante da crise ambiental.
Para quem vive e protege a floresta há milênios, o futuro não pode mais esperar. “A resposta somos nós”, afirmaram os povos em coro. E agora, com o mapa nas mãos, estão ainda mais preparados para continuar resistindo — com dados, com voz e com o território.