O possível papa brasileiro
O arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Ulrich Steiner, foi citado pela agência Reuters como um dos favoritos à sucessão de Francisco no trono de Pedro. O cardeal da Amazônia participou de um encontro com o pontífice seis meses antes da morte do líder da Igreja Católica, ocorrida neste ano. A reunião, que aconteceu em outubro de 2024 no Vaticano, incluiu a entrega de uma imagem da Nossa Senhora da Amazônia e bênçãos especiais destinadas à região.
Dom Leonardo está entre os sete brasileiros que participam do conclave, que começa nesta quarta-feira (7), no Vaticano. O processo, tradicional e cercado de simbolismos, decidirá quem será o novo chefe da Igreja Católica.
Encontro marcado por simbolismo amazônico
Durante a assembleia do Sínodo dos Bispos, realizada na sede da Igreja Católica, Dom Leonardo entregou pessoalmente ao papa Francisco uma imagem da Nossa Senhora da Amazônia. A peça foi enviada por uma comunidade de Manaus e representa os traços caboclos e indígenas da população da região.
“O papa recebeu a imagem com carinho e enviou bênçãos para todas as comunidades da Amazônia”, relatou o cardeal. O gesto foi simbólico não apenas pela devoção religiosa, mas também pelo forte apelo cultural e ambiental da região amazônica.
Francisco, que sempre demonstrou atenção especial aos povos tradicionais e à preservação da floresta, respondeu com palavras que ecoaram em toda a Igreja:
“A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam (…), e lá continua presente e determinante no futuro daquela área.”
Trajetória marcada por missão e diálogo
Leonardo Ulrich Steiner nasceu em Forquilhinha, Santa Catarina, no dia 6 de novembro de 1950. Ingressou na Ordem dos Frades Menores em 1972 e foi ordenado padre em 1978 por Dom Paulo Evaristo Arns. Com mestrado e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, Steiner acumulou experiência acadêmica e pastoral tanto no Brasil quanto no exterior.
Em 2005, foi nomeado bispo da prelazia de São Félix, no Mato Grosso, região conhecida por sua diversidade social e ambiental. Em 2011, assumiu o cargo de bispo auxiliar de Brasília e, simultaneamente, a função de secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde atuou até 2019.
Naquele ano, foi nomeado arcebispo metropolitano de Manaus, cargo que ocupa até hoje. Em 2022, foi elevado a cardeal da Amazônia pelo próprio Papa Francisco — um reconhecimento da importância geopolítica e espiritual da região amazônica para a Igreja.
Seu lema episcopal é “Verbum caro factum est”, que significa “O Verbo se fez carne”, uma expressão que reflete sua dedicação ao Evangelho encarnado na realidade dos povos amazônicos.
Como funciona o conclave
O processo de escolha do novo papa é conduzido com extremo rigor e sigilo. O termo “conclave” vem do latim cum clavis — “fechado à chave”. Os cardeais eleitores permanecem isolados no Vaticano, sem contato com o mundo exterior. Estão proibidos de usar celulares, acessar jornais ou qualquer forma de comunicação externa.
As votações acontecem dentro da Capela Sistina e exigem que o escolhido obtenha dois terços dos votos para ser eleito. São realizadas até quatro rodadas de votação por dia, com pausas para oração em caso de impasse.
Caso o conclave se estenda por 34 votações sem resultado, os dois cardeais mais votados participam de uma espécie de segundo turno, mantendo, no entanto, a exigência dos dois terços dos votos.
Uma vez eleito, o cardeal é questionado se aceita o cargo. Com a resposta positiva, ele escolhe o nome papal e se dirige à chamada “Sala das Lágrimas”, onde veste as vestes papais antes de ser apresentado à multidão na Praça de São Pedro com o tradicional anúncio: “Habemus Papam”.
Brasileiros no conclave
Além de Steiner, o Brasil será representado por outros seis cardeais no conclave, demonstrando o peso da Igreja brasileira dentro do catolicismo mundial. A expectativa em torno de um possível papa latino-americano novamente cresce, especialmente diante do perfil progressista e voltado à justiça social que caracterizou o pontificado de Francisco.
Caso seja eleito, Dom Leonardo será o primeiro papa brasileiro e o primeiro com origem diretamente ligada à região amazônica, marcando um novo capítulo na história da Igreja, ainda mais conectado com as causas ambientais, indígenas e sociais.
Presença acadêmica e pastoral
O encontro com o papa, em 2024, também contou com a presença do padre Adelson Araújo dos Santos, nascido em Manaus e professor da Universidade Gregoriana de Roma. Ele atuou como facilitador do Sínodo e tem sido figura importante no diálogo entre teologia e realidade amazônica.
A presença de figuras como Steiner e Adelson no centro do catolicismo mundial aponta para uma Igreja cada vez mais sensível às vozes da floresta e aos desafios das periferias humanas e ecológicas.
Amazônia no centro da Igreja
Francisco já havia convocado, em 2019, o Sínodo para a Amazônia — um gesto inédito que colocou a floresta e seus povos no coração dos debates eclesiais. A escolha de Steiner como cardeal e sua possível ascensão ao papado dariam continuidade a esse movimento.
Com um perfil conciliador, sensível às causas sociais e com forte base teológica e acadêmica, Dom Leonardo Steiner reúne os atributos necessários para conduzir a Igreja em tempos desafiadores.