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sábado, 14 junho, 2025
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Além de 2026 – CartaCapital

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Candidato da principal corrente e apoiado por Lula, Edinho Silva, ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara, se eleito para comandar o PT, dedicará a maior parte da energia no primeiro ano de mandato, se não toda, a uma missão que considera central: reeleger o presidente em 2026. “É fundamental para a história brasileira”, afirma. O futuro da legenda não escapa, porém, ao seu radar. A agremiação, afirma, precisa reconectar-se com as bases e entender as mudanças econômicas e sociais em curso, se quiser se fortalecer e continuar relevante, principalmente depois de Lula, sua maior e mais simbólica liderança, deixar de disputar eleições. A batalha entre democracia e fascismo, acredita o dirigente petista, será não só difícil, mas, no mínimo, de “médio prazo”. Segundo ele, o PT precisa abraçar a defesa da democracia direta e de uma profunda reforma político-eleitoral que valorize os partidos e detenha o culto à personalidade típico da extrema-direita. A íntegra da entrevista está no canal do YouTube de CartaCapital.

Eleições no PT

Sou filiado ao PT desde 1985 e não me lembro de nenhuma eleição sem disputa. O partido preza muito sua democracia interna, tem uma vida orgânica muito forte, cotidianamente mobiliza as ­suas instâncias, dirigentes e militância. Não vejo como um problema, mas um mérito da legenda ter várias candidaturas.

O pós-Lula

O PT enfrentou um processo de ataques que provavelmente nenhum outro partido vivenciou. E vencemos. A prisão e, depois, a liberdade do presidente Lula descaracterizaram tudo aquilo que havia sido construído como retórica para nos destruir. Conseguimos nos refazer, o presidente Lula ganhou as eleições de 2022. Portanto, o PT é vitorioso. Mas, claro, por mais que este seja um fato inegável, precisamos entender as suas dificuldades, aquilo que precisa superar do ponto de vista orgânico, organizativo e de suas posições. Vamos enfrentar um processo muito difícil no próximo período. Acho que o campo democrático, de modo geral, vai enfrentar um processo muito difícil. Vemos na Europa a ascensão do fascismo e esse discurso também cresceu no Brasil, tem capilaridade eleitoral. O PT terá de ser um partido forte, com as suas instâncias funcionando, para enfrentar essa disputa, que será, no mínimo, de médio prazo. Além do mais, precisamos nos fortalecer para o pós-Lula. A próxima será a última eleição do presidente. Teremos de dialogar com a sociedade sem Lula disputando eleições. O presidente tem uma frase muito emblemática. Ele diz que o substituto não será um nome, será o partido. Precisamos reestruturar o PT, voltar a fazer trabalho de base. Temos dificuldade para dialogar com a nova classe trabalhadora. O partido precisará dar conta dessas demandas para continuar a ser relevante na disputa de rumos do Brasil, que influencie a América Latina e mostre que aqui somos capazes de derrotar o fascismo. Se um país do nosso tamanho consegue enfraquecer a extrema-direita, torna-se um referencial para o continente e para a Europa.

A disputa com o pensamento fascista será longa, afirma

Ordem ou mudança?

A democracia representativa vive uma crise no mundo. Isso tem alimentado um sentimento antissistema que tem sido capturado pela direita. O PT precisa entender o descrédito da política e ser efetivamente o partido da mudança. Defendo que a gente levante a bandeira da democracia direta. Temos nossa experiência com o orçamento participativo, sempre apoiamos os conselhos populares, mas nos afastamos dessas ideias. Infelizmente, temos prefeituras comandadas pelo PT que não implementam mais o orçamento participativo. O embate do século XXI será democracia contra fascismo. Mas, para a classe trabalhadora valorizar a democracia, ela tem de se identificar no seu cotidiano, senão vira um valor abstrato. Os trabalhadores e trabalhadoras só vão defender o que é real nas suas vidas. Também temos de levantar a bandeira de uma reforma político-eleitoral e o voto em lista. O que caracteriza o fascismo? O culto à personalidade, o expansionismo e a não aceitação do outro. Se não defendermos o fortalecimento da democracia por meio do fortalecimento dos partidos, teremos cada vez mais ­influencers ocupando os espaços.

Popularidade do governo

O presidente Lula assumiu em 2023 com o País literalmente quebrado. Eram 375 bilhões de reais de rombo, boa parte utilizada na maior operação de compra de votos do ponto de vista institucional já vista no Brasil. O presidente foi obrigado, inclusive, a refazer as relações institucionais, após o desarranjo absurdo durante o governo Bolsonaro. Em 2024, o governo reestruturou as políticas públicas. Além de voltar com o Minha Casa, Minha Vida e com o PAC, e fazer um debate sério sobre o Bolsa Família, que precisa ter uma porta de entrada e uma porta de saída, o presidente lançou o Pé-de-Meia, um programa fundamental para a manutenção na escola do estudante vindo de famílias vulneráveis, pois não haverá um país de igualdade de oportunidades se não for pela educação, e o crédito ao trabalhador, que tenta melhorar o endividamento das famílias. O governo finaliza um plano para melhorar as residências precárias e estuda um programa para os motoentregadores, a maior categoria profissional do Brasil, hoje. Tem muita coisa para entregar e não tenho dúvida de que as medidas vão levar a uma melhora na avaliação. Mas só faremos um enfrentamento correto da polarização vigente se voltarmos a conversar com uma parte do eleitorado que não votou em nós em 2022. Por isso, precisamos discutir um novo modelo. Queremos uma sociedade que reconheça a urgência climática, um sistema de produção de riqueza sem degradar o meio ambiente. Uma sociedade com política de segurança pública amparada no uso de tecnologia e não no conceito da política que mata.  O PT precisa ser um partido que não só dialogue com as novas temáticas do século XXI, mas que também toque o coração do eleitorado.

Eleições 2026

A reeleição do presidente Lula tem de estar no centro da ação do PT no próximo ano. Precisamos dar continuidade ao processo de reconstrução do Brasil, não podemos voltar ao que vivemos durante o governo Bolsonaro, derrotar as expressões do fascismo no País, atualmente alojadas em diferentes partidos. Temos de criar um amplo campo democrático, para que a gente consiga reeleger o presidente Lula. É fundamental para a história brasileira. •

Publicado na edição n° 1366 de CartaCapital, em 18 de junho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Além de 2026’





Por:Carta Capital

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