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A nova era Trump e a repetição das políticas destrutivas para o meio ambiente

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Na quarta-feira, 6 de novembro de 2024, Donald Trump foi reeleito presidente dos Estados Unidos, o que intensificou o debate sobre as questões climáticas e ambientais. Embora sua eleição reflita desafios internos nos EUA, suas políticas têm efeitos que vão além das fronteiras do país, afetando outras nações e, em última instância, o próprio equilíbrio do planeta.

É especialmente preocupante que os Estados Unidos, uma nação historicamente responsável por grande parte da destruição da camada de ozônio, tenha escolhido um presidente que adota medidas que dificultam os esforços globais para enfrentar as mudanças climáticas.

Durante o século 20, os EUA foram os maiores emissores de dióxido de carbono (CO₂) devido a atividades humanas, conforme apontam os dados do Climate Watch, e visto na figura 1 desta matéria.

Figura 1. Emissões de CO₂ em gigatoneladas (Gt) por país no século 20 (Fonte: ClimateWatch)

O gráfico ilustra a distribuição das emissões de CO₂ por diferentes países durante o século 20. Os dados mostram que os Estados Unidos lideraram as emissões globais de CO₂ durante esse período, desempenhando um papel central na contribuição para as mudanças climáticas.

O papel dos Estados Unidos como o maior emissor de CO₂ no século 20 não deveria ser motivo de orgulho, mas sim um sinal claro da urgência com que a comunidade global precisa agir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Embora o país tenha sido ultrapassado pela China em 2005, como mostra a Figura 2, a luta contra o aquecimento global ainda exige que nações poderosas, como os EUA e a China, adotem medidas mais efetivas para limitar suas emissões.

No entanto, o cenário atual apresenta um paradoxo preocupante: enquanto o mundo espera ações concretas para combater as mudanças climáticas, a reeleição de Donald Trump levanta sérias dúvidas sobre o compromisso dos Estados Unidos com essa causa.

Figura 2. Emissões de CO₂ em Gt por país desde a década de 1850, marcando o início da transição entre a Primeira e a Segunda Revolução Industrial, um período de significativa evolução científica e tecnológica. (Fonte: Climate Watch)

O gráfico acima apresenta a evolução das emissões de CO₂ por diferentes países desde 1850, quando os dados se tornam disponíveis. Ela destaca o papel dos Estados Unidos como o maior emissor de dióxido de carbono até 2005, ano em que a China ultrapassou os EUA, tornando-se o principal responsável pelas emissões globais. Este período coincide com o avanço das revoluções industriais, que impulsionaram o crescimento das atividades econômicas e, consequentemente, o aumento das emissões de CO₂.

Trump, ao longo de sua presidência e de sua campanha à reeleição, tem repetidamente negado a realidade do aquecimento global, chamando-o de “fraude”. Ele tem incentivado ativamente a exploração de combustíveis fósseis, enfraquecido regulamentações ambientais e se mostrado contrário a políticas que buscam mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Sua relação com a agenda climática é, sem dúvida, negativa: ao invés de buscar soluções sustentáveis, ele priorizou interesses econômicos de curto prazo, como a expansão da indústria de petróleo e gás. Sua política ambiental tem sido marcada pela revogação de normas que protegem ecossistemas vulneráveis e pela abertura de áreas protegidas para exploração de recursos naturais, o que coloca em risco muitas espécies e o equilíbrio ambiental.

Uma das atitudes mais emblemáticas de Trump foi sua intenção de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, o principal esforço global para limitar o aumento da temperatura mundial.

Além disso, Trump tem defendido o aumento da produção de energia nuclear, uma medida que, embora considerada por alguns como uma alternativa para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, não resolve os problemas ambientais de forma ampla e segura. Essa postura dificultou os avanços em uma cúpula climática global que, sem o apoio dos EUA, se vê cada vez mais fragilizada.

As emissões de gases de efeito estufa, resultantes de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, desmatamento e agricultura, são os principais motores das mudanças climáticas. Esses gases têm a capacidade de reter o calor na atmosfera, intensificando o efeito estufa natural, o que leva ao aquecimento global.

Com o aumento das concentrações desses gases, a temperatura média global tem subido de forma acelerada, alterando padrões climáticos históricos e provocando eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, como ondas de calor, tempestades mais fortes, secas prolongadas e inundações.

As mudanças climáticas também afetam os ecossistemas, provocando a perda de biodiversidade e alterando ciclos naturais, como o das chuvas e das estações. Além disso, as alterações no clima têm um impacto direto na saúde humana, na segurança alimentar e na disponibilidade de recursos hídricos, criando desafios significativos para a adaptação das populações mais vulneráveis.

No Brasil, a reeleição de Donald Trump pode ter sérias implicações para o Fundo Amazônia, que é uma das principais iniciativas de financiamento voltadas à preservação da maior floresta tropical do mundo. Os Estados Unidos, como já mencionado, desempenharam um papel significativo na degradação ambiental global, sendo um dos maiores emissores de gases de efeito estufa e responsáveis por grande parte dos danos ao meio ambiente.

Sob a liderança de Trump, que já demonstrou oposição a acordos internacionais de preservação e mudanças climáticas, a colaboração dos EUA com o Fundo Amazônia — que depende, em parte, de contribuições internacionais, incluindo de países como os EUA — pode ser seriamente comprometida. Isso poderia enfraquecer os esforços do Brasil para combater o desmatamento ilegal e proteger a biodiversidade da Amazônia, agravando ainda mais a crise ambiental global e colocando em risco o equilíbrio climático que a floresta desempenha de forma essencial.

Para concluir esse artigo, vou abordar minha área de pesquisa, que está relacionada ao estudo de patógenos causadores de surtos epidêmicos e pandêmicos.

As mudanças climáticas podem aumentar a frequência e a gravidade dessas epidemias, principalmente devido às alterações nos ecossistemas e ao deslocamento de espécies, incluindo os próprios patógenos (organismos como vírus e bactérias capazes de provocar doenças em hospedeiros, como os seres humanos) e os vetores (animais ou insetos que transmitem doenças).

O aquecimento global altera os padrões de temperatura e precipitação, criando condições mais favoráveis para a proliferação de doenças infecciosas, fazendo com que elas se espalhem para novas regiões. Além disso, a destruição de habitats naturais pode forçar animais e insetos a migrar para áreas mais próximas dos seres humanos, aumentando o risco de transmissão de novas doenças.

Dessa forma, as mudanças climáticas não só afetam o clima e os ecossistemas, mas também podem facilitar o surgimento de pandemias, representando um grande risco para a saúde global.

*Imunologista PhD pela USP, pós-doutor pelo Instituto Jenner da Universidade de Oxford (Inglaterra) e pós-doutor sênior pelo Hospital Universitário de Berna (Suíça). Atualmente, é coordenador de pesquisa para o desenvolvimento tecnológico de vacinas no Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP.

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