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domingo, 20 abril, 2025
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5 artigos da Nature que redefiniram a astronomia e astrofísica

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A revista Nature é um dos periódicos científicos mais antigos e respeitados do mundo. Fundada em 1869, ela se tornou sinônimo de excelência acadêmica ao publicar descobertas que marcaram a história da ciência em diversas áreas, como biologia, física, química e, especialmente, astronomia.

Ter um artigo aceito pela Nature é uma validação poderosa do rigor e da relevância de um estudo. No campo da astronomia e astrofísica, essa visibilidade é ainda mais crucial, já que as descobertas frequentemente envolvem cooperação internacional, investimentos bilionários e implicações filosóficas e tecnológicas de grande alcance.

Ao longo das últimas décadas, o periódico serviu como vitrine para descobertas que mudaram a forma como enxergamos o Universo. Hoje nós vamos conhecer os cinco artigos mais influentes publicados pela Nature no campo dos estudos da astronomia e astrofísica.

5 maiores descobertas da astronomia e astrofísica publicadas na revista Nature

No campo dos estudos sobre nosso Universo, a astronomia é a ciência que estuda os corpos celestes, como planetas, estrelas, galáxias, cometas e o próprio Universo como um todo. Ela investiga suas posições, movimentos, estruturas, origens e evoluções.

Desde os tempos antigos, a astronomia tem sido uma ferramenta fundamental para a humanidade entender seu lugar no cosmos, ajudando na criação de calendários, na navegação e no desenvolvimento de teorias físicas e matemáticas.

Já a astrofísica é um ramo da própria astronomia que se concentra em entender os processos físicos e químicos que regem o funcionamento desses corpos celestes. Assim, enquanto a astronomia é mais ampla e abrange a descrição e a observação do Universo, a astrofísica se aprofunda nos mecanismos internos e nas causas dos fenômenos cósmicos.

Evidência de água líquida em Marte (2018)

Em julho de 2018, cientistas publicaram na Nature um artigo intitulado “Evidence for Liquid Water on Mars from Radar Observations”, que relatava a identificação de um lago subterrâneo de água líquida sob a calota polar sul de Marte. A descoberta foi feita com base em dados do instrumento MARSIS, um radar embarcado na sonda europeia Mars Express, que analisa o subsolo marciano usando ondas de rádio.

Terraformação de Marte. Crédito: Daein Ballard – Wikimedia Commons (domínio público)

Os dados mostraram reflexões compatíveis com o acúmulo de água salgada a cerca de 1,5 km abaixo da superfície. Isso indicava não apenas a presença de gelo, mas de água em estado líquido, uma condição rara e extremamente importante em Marte, onde a baixa pressão e temperatura geralmente impedem esse estado físico.

A importância dessa descoberta é gigantesca. Água líquida é um ingrediente essencial para a vida como conhecemos, o que reacendeu o interesse por investigações sobre possíveis formas de vida microbiana no planeta.

Além disso, reforçou a urgência de futuras missões robóticas e humanas que explorem a subsuperfície marciana, tanto para fins científicos quanto como estratégia de sobrevivência para futuras colônias humanas.

Uma estrela orbitando perto de um buraco negro (2002)

Publicado em 2002, o artigo “A Star Orbiting Close to the Galactic Centre Black Hole” trouxe uma das evidências mais sólidas da existência de um buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, conhecido como Sagitário A*. A equipe, liderada por Reinhard Genzel, observou a estrela S2 orbitando muito próxima do centro galáctico, completando uma volta a cada 16 anos.

Imagem real do buraco negro supermassivo central da Via Láctea, batizado de Sagitário A*. Crédito: Colaboração do Event Horizon Telescope

As medições extremamente precisas da órbita de S2 permitiram calcular a massa do objeto invisível ao redor do qual ela girava cerca de 4 milhões de vezes a massa do Sol e determinar sua localização com alta precisão. Esse foi um dos primeiros estudos a mostrar de forma incontestável que o núcleo da nossa galáxia abriga um buraco negro supermassivo.

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A importância da descoberta vai além da confirmação do buraco negro. Ela abriu portas para testar os limites da Teoria da Relatividade Geral de Einstein em condições extremas de gravidade, além de fornecer um laboratório natural para o estudo de astrofísica de alta energia. As observações dessa região continuam sendo feitas com telescópios como o VLT e o GRAVITY, levando a descobertas cada vez mais detalhadas.

Ondas gravitacionais da colisão de dois buracos negros (2016)

A publicação do artigo “Observation of Gravitational Waves from a Binary Black Hole Merger” em 2016 marcou um dos momentos mais históricos da física moderna. Ele anunciava a primeira detecção direta de ondas gravitacionais, pequenas ondulações no tecido do espaço-tempo previstas por Albert Einstein há mais de um século.

Ondas gravitacionais geradas por estrelas de nêutrons pouco antes de sua colisão – Créditos: LIGO/MIT

As ondas foram captadas em setembro de 2015 pelos detectores do LIGO nos Estados Unidos, vindas da fusão de dois buracos negros com cerca de 30 massas solares cada. Esse evento ocorreu a mais de um bilhão de anos-luz da Terra e liberou mais energia em poucos segundos do que todas as estrelas do Universo visível combinadas naquele instante.

O impacto foi imenso: inaugurou a chamada astronomia de ondas gravitacionais, permitindo aos cientistas “ouvir” o Universo, e não apenas o observar com luz. Desde então, dezenas de eventos foram detectados, inclusive colisões de estrelas de nêutrons, que ajudaram a explicar a origem de elementos pesados como o ouro e a platina.

Primeiro exoplaneta orbitando uma estrela (1995)

Em 1995, Michel Mayor e Didier Queloz publicaram o artigo “A Jupiter-mass companion to a solar-type star”, no qual descreveram a detecção do primeiro exoplaneta orbitando uma estrela parecida com o Sol: o 51 Pegasi b. Usando a técnica de velocidade radial, os cientistas perceberam que a estrela oscilava de forma periódica, indicando a presença de um planeta gigante gasoso muito próximo dela.

Imagem: NASA / JPL-Caltech / R. Hurt, K. Miller (Caltech / IPAC)

Essa descoberta foi revolucionária. Até então, exoplanetas eram apenas especulações. O artigo comprovou sua existência, desencadeando uma corrida científica global para detectar e caracterizar outros mundos. Desde então, milhares de exoplanetas já foram descobertos por missões como Kepler e TESS, levando à criação de um novo ramo científico: a exoplanetologia.

O estudo abriu novas questões sobre a formação de sistemas planetários, a diversidade de mundos e, principalmente, a busca por vida fora da Terra.

Pulsos de rádio ultrarrápidos e o magnetar

Em 2020, cientistas publicaram na Nature o artigo “A bright millisecond-duration radio burst from a Galactic magnetar”, que estabeleceu, pela primeira vez, uma ligação direta entre um fast radio burst (FRB) e uma estrela de nêutrons extremamente magnetizada, conhecida como magnetar.

Representação artística 3D de um magnetar. Crédito: orin – Shutterstock

FRBs são pulsos de rádio ultrarrápidos e intensos detectados desde 2007, com origens até então desconhecidas. A associação com um magnetar dentro da nossa galáxia, chamado SGR 1935+2154, foi um passo crucial para entender esses eventos. Mostrou que pelo menos parte dos FRBs pode ser gerada por processos de alta energia em magnetares, como rearranjos de seus campos magnéticos ou terremotos estelares.

Essa descoberta ajudou a restringir os modelos teóricos sobre a origem dos FRBs e direcionou as observações para objetos compactos altamente energéticos. Além disso, impulsionou o desenvolvimento de novos radiotelescópios dedicados exclusivamente ao monitoramento desses sinais, como o CHIME, no Canadá.




Fonte: Olhar Digital

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